Referência: JAMA. 2022 Jul 12;328(2):151-161
“Medicina de precisão” parece uma coisa legal. Mas, precisamente, o que estamos fazendo com ela? Além do tratamento do câncer e de certas condições genéticas, há pouca evidência de benefícios clínicos para o uso de testes genômicos para orientar a assistência médica ou a seleção de medicamentos. Graças à publicidade e a algoritmos de mídias sociais, no entanto, não é incomum que os pacientes peçam testes genéticos para ajudar a escolher o medicamento antidepressivo ”certo” para eles. Mas isso realmente ajuda? A teoria é que saber como um indivíduo metabolizará antidepressivos específicos os levará a melhores resultados de tratamento através da seleção ou da titulação de medicamentos mais precisos.
O estudo PRIME recrutou cerca de 2.000 pessoas (75% do sexo masculino) com transtorno depressivo grave recebendo cuidados através da Veterans Administration. Os pesquisadores utilizaram o PHQ-9 e outros questionários validados para medir o sucesso do tratamento durante um período de 24 semanas. Neste ensaio pragmático não cego, os prestadores foram autorizados a prescrever antidepressivos como normalmente fariam, mas tiveram acesso aos resultados de testes genômicos para os pacientes randomizados para o grupo dos testes genômicos. Os resultados do estudo relatados são um pouco confusos. Eles demonstram uma diferença modesta, mas significativa, nas taxas de remissão entre grupos ao longo de 24 semanas mas não a 24 semanas. O que isso significa? Achamos que isso provavelmente reflete melhorias não significativas observadas em vários pontos do tempo ao longo do caminho. Mas mesmo o “efeito modesto e não persistente sobre as taxas de remissão” que os autores relatam é suspeito, dado que esse é um estudo não cego com alto risco de efeito placebo, houve várias alterações importantes no protocolo, incluindo uma mudança no desfecho primário, e o desfecho primário alterado parece mais um composto.
Então os testes genômicos vão afetar a prescrição de antidepressivos? Provavelmente. Deveriam? Provavelmente não. Talvez seja precisamente isso que há de errado com uma abordagem “mais é melhor” para a obtenção de informações nos dias de hoje.
Mensagem clínica para levar para casa: não perca tempo ou dinheiro com testes genômicos para direcionar a prescrição de antidepressivos.
Pílula da MBE: as alterações de protocolos são sinais de alerta. Confie em seus instintos se você se sentir confuso pelos métodos do estudo ou pelo relato dos resultados. Vale a pena o esforço de olhar mais de perto.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Carina Brown, MD, professora assistente na residência em Medicina da Família da Cone Health; Nicole Jensen, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.