Referência: JAMA Netw Open. 2023 Mar 1;6(3):e235174
Conclusão prática: Caminhar pelo menos 8.000 passos por dia em um a dois dias por semana pode ser suficiente para diminuir a mortalidade por todas as causas.
Pílula da MBE: As razões de danos (hazard ratios) são mais apropriadas que as diferenças de risco ajustadas (DRa) ao se analisarem dados observacionais dependentes do tempo.
Fazer com que as pessoas se exercitem é um desafio. O bom senso diz que fazer qualquer exercício é melhor do que não fazer nenhum, mas será que a abordagem do guerreiro de fim de semana funciona? Ainda não temos boas evidências sobre em quantos dias por semana se deve caminhar para otimizar a saúde no longo prazo. Em relação a esse ponto, um estudo recente no JAMA analisou a associação entre dias por semana com caminhada e o risco de mortalidade por todas as causas em 10 anos.
Os pesquisadores conectaram dados do NHANES de 2005/2006 ao National Death Index até 2019 para 3101 participantes adultos que usaram um acelerômetro por pelo menos 4 dias durante o período do estudo. Os participantes foram categorizados em grupos com base no número de dias (0, 1-2 e 3-7) em que atingiram ≥ 8.000 passos durante uma semana de coleta de dados do acelerômetro e foram avaliados quanto a mortalidade por todas as causas e doença cardiovascular (é isso mesmo – todo este estudo que examina tendências de mortalidade em 10 anos é baseado em 1 semana de dados auto-relatados). A associação dose-resposta também foi examinada para o número de dias por semana em que os participantes alcançaram 8.000 passos e a mortalidade.
A 10 anos o risco de mortalidade por todas as causas foi significativamente menor entre aqueles que deram ≥ 8.000 passos em 1 a 2 dias por semana (diferença de risco ajustada [DRa] = -14,9%) e em 3 a 7 dias por semana (DRa = -16,5%) na escala absoluta, em comparação com 0 dias por semana. Da mesma forma, o risco de mortalidade por DCV foi 8,1% menor entre aqueles que deram ≥ 8.000 passos em 1 a 2 dias por semana e 8,4% menor entre os participantes que deram os passos em 3 a 7 dias. A relação entre a frequência de caminhada e o risco de mortalidade seguiu um padrão curvilíneo, com uma rápida diminuição do risco até 3 a 4 dias de caminhada por semana, após os quais o risco se estabilizou.
Então achamos que caminhar 8.000 passos em 1 ou 2 dias por semana é suficiente para acrescentar mais alguns anos à sua vida? Talvez, mas não necessariamente com base neste estudo devido a alguns problemas importantes. O primeiro é o enigma do "ovo e a galinha": quando observamos uma população, aqueles que se exercitam já são mais saudáveis e mais propensos a viverem mais. Este não foi um ensaio randomizado, e a observação inicial foi olhar, efetivamente, para 3 populações diferentes. Os participantes com uma frequência mais alta de > 8.000 passos por dia ao início do estudo tendiam a ser mais jovens, não fumantes, menos propensos a terem obesidade ou outras condições clínicas e/ou avaliarem sua saúde como boa, todos fatores conhecidos por estarem associados a uma melhor saúde em longo prazo, independentemente do nível de atividade. Em segundo lugar, as DRa simplesmente não são a ferramenta estatística apropriada para se usar aqui: as razões de danos teriam sido melhores, uma vez que contabilizam o tempo até o evento, enquanto as DRa quantificam a disparidade absoluta dos riscos entre os grupos exposto e não exposto.
Todos sabemos que correlação não é igual a causalidade. Esses 3 grupos parecem ser fundamentalmente diferentes, o que os torna difíceis de comparar. Também é difícil dizer que 1 semana de dados é realmente um reflexo da contagem de passos ao longo dos 10 anos seguintes. Dito tudo isso, provavelmente há pouco mal em se recomendar que nossos pacientes se esforcem para atingir pelo menos 8.000 passos uma vez por semana. E citar este estudo para eles pode ser uma boa técnica de venda para ajudá-los a se moverem.
Para mais informações veja o tópico Medicina preventiva em adultos na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Elham Razmpoosh, PhD, pesquisadora em pós-doutorado na Universidade McMaster. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.