Acreditamos na PREVENTção da superestimação do risco cardiovascular

MBE em Foco - Volume 9, Issue 17

Referência: Circulation. 2023 Nov 10 early online

Conclusão prática: A AHA PREVENT, uma nova calculadora de risco cardíaco, tem um desempenho melhor em estimar o risco do que as anteriores. São mudanças notáveis a remoção da raça como parâmetro, a maior aplicabilidade etária e a adição da TFGe e da HbA1C, da relação albumina/creatinina urinária e do índice de privação social como opcionais.

Pílula da MBE: Os estudos de validação para calculadoras de risco devem incluir avaliações de discriminação e calibração para que sejam válidos.

A American Heart Association (AHA) revelou recentemente uma nova calculadora que não inclui a raça como parâmetro que demonstrou prever o risco cardíaco com mais precisão do que as Pooled Cohort Equations (PCEs) introduzidas pela AHA/ACC em 2013 (comumente conhecidas como a calculadora ASCVD). Sabe-se que as PCEs superestimam o risco; por exemplo, elas superestimaram o risco em 86% nos homens e 67% nas mulheres em um estudo de coorte de validação independente publicado na Annals em 2015. As PCEs também perpetuam o uso da raça, uma construção social, como um classificador medicamente válido, contribuindo para o racismo sistêmico e as iniquidades na saúde. Então, uma opção nova e melhor do que as PCEs realmente é um presente para todos nós neste fim de ano (e começo de 2024)!

Além dos marcadores padrão de risco cardiovascular, como idade, sexo, pressão arterial, colesterol e tabagismo, as equações Predicting Risk of cardiovascular disease EVENTs (PREVENT) adicionam a TFGe como preditor, além dos parâmetros opcionais de função renal (relação albumina/creatinina urinárias), risco metabólico (hemoglobina A1c) e determinantes sociais de saúde (índice de privação social). Elas podem ser aplicadas a adultos de 30 a 79 anos, que é uma faixa etária mais ampla do que as PCEs, e predizem os riscos e 10 e 30 anos de DCVA e de insuficiência cardíaca (juntos e separadamente). No entanto, estimar o risco em 30 anos (que é essencialmente o risco vitalício para alguns) é complicado, então ainda há um potencial para superestimação nesse período mais longo.

A justificativa e as implicações clínicas das equações PREVENT são discutidas em uma declaração científica da AHA recentemente publicada na Circulation. Nela, a AHA conclui com confiança que as equações PREVENT têm um desempenho melhor de previsão do risco do que as PCEs. Mas se você tiver sido uma daquelas crianças que faz perguntas científicas sobre o Papai Noel assim que aprende a falar, você pode ser um daqueles adultos que precisa ver os estudos de validação reais antes de acreditar em algo assim. Nós definitivamente fizemos isso. Custou um pouco de esforço, mas nós o encontramos - um manuscrito de publicação antecipada, aceito (ou seja, revisado por pares) que contém os dados críticos sobre o desempenho das equações PREVENT em coortes de validação apropriadas (o estudo de referência para este MBE em Foco). Um pouco de atenção, porém: se você nunca ouviu falar em "discriminação" e "calibração", talvez queira pular a tentativa de ler o texto completo e apenas confiar em nós quando dizemos que revisamos as evidências e isso nos tornou crentes.

Se você está curioso (ou não estava tão curioso antes e agora está irritado por ter começado a ler este parágrafo e agora não consegue parar porque ficou), a discriminação envolve separar corretamente as pessoas em estratos de risco (por exemplo, baixo, médio, alto), enquanto a calibração reflete a acurácia do risco numérico atribuído às pessoas dentro dos estratos de risco. Por exemplo, você poderia ter uma ferramenta de risco que estratifica duas pessoas como sendo de riscos "baixo" e "moderado" corretamente (boa discriminação), mas se o risco atribuído como "baixo" for de 1% e o "moderado" for de 7%, mas os riscos reais forem de 6% e 13%, respectivamente, a calibração seria ruim.

Para amarrar tudo com um belo laço vermelho, as novas equações PREVENT da AHA combinam medidas de saúde cardiovascular, metabólica e renal, juntamente com fatores sociais para estimar o risco cardíaco – tanto de DCVA quanto de insuficiência cardíaca. A PREVENT pode ser usada para pessoas de 30 a 79 anos e oferece estimativas dos riscos em 10 e em 30 anos. Pela nossa conta, a PREVENT parece superar as PCEs e provavelmente substituirá os PCEs completamente. As equações PREVENT ainda não estão disponíveis para uso, embora nosso DynaMed Decisions esteja trabalhando diligente e rapidamente para revelar essa ferramenta para seu uso muito em breve - talvez até antes da AHA. Um brinde!

Para mais informações veja o tópico Avaliação de risco cardiovascular na DynaMed.

Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed

Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, Médica de Família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, editor médico da DynaMed; Elham Razmpoosh, PhD, pesquisadora em pós-doutorado na Universidade McMaster; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.