Adição de ácido fólico ao enalapril pode reduzir ligeiramente o risco de AVC primário em adultos chineses que têm hipertensão

MBE em Foco - Volume 3, Issue 6

Referência: ensaio CSPPT (JAMA 2015 Apr 7;313(13):1325) (evidência de nível 2 [médio])

A hipertensão é uma condição comum que pode começar nas idades de 20-50 anos, sendo a prevalência crescente de acordo com a idade. Estima-se que 41% das pessoas com idades entre 35 e 70 anos tenham hipertensão (JAMA 2013 Sep 4;310(9):959), a qual está associada com um risco aumentado de várias doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, incluindo o acidente vascular cerebral (Lancet 2010 Jul 10;376(9735):112). Os medicamentos anti-hipertensivos são recomendados para a prevenção primária do AVC em pacientes com hipertensão (Stroke 2011 Feb;42(2):517), e estudos recentes têm sugerido que a suplementação de vitamina B também pode ajudar a reduzir o risco de acidente vascular cerebral primário em pacientes de alto risco (Stroke 2010 Jun;41(6):1205, Int J Clin Pract 2012 Jun;66(6):544). Um ensaio randomizado recente comparou o enalapril 10 mg associado a ácido fólico 0,8 mg com o enalapril 10 mg isoladamente por 5 anos em 20.702 adultos chineses com idades entre 45 e 75 anos (idade média de 60 anos) com hipertensão. No momento do recrutamento, todos os pacientes tinham pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg ao repouso, pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg ou estavam tomando medicação anti-hipertensiva. Outros medicamentos anti-hipertensivos foram usados concomitantemente durante o ensaio por 57,1% dos pacientes. Pacientes com história de AVC, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, revascularização coronária ou doença cardíaca congênita foram excluídos do ensaio.

O ensaio foi interrompido precocemente após uma diferença significativa entre os grupos na ocorrência de um primeiro AVC ter excedido o limiar predefinido à quarta análise intermediária. A adesão total ao tratamento foi baixa, com apenas 69,1% dos pacientes tomando ≥ 70% de todos os medicamentos do estudo, e 16,8% dos pacientes não completando o período mediano de tratamento de 4,5 anos. A maioria dos pacientes que interromperam o tratamento ainda foram acompanhados quanto aos eventos do desfecho e todos os pacientes randomizados foram incluídos na análise primária. O nível mediano inicial de folato foi de 8,1 ng/mL e no último follow-up, o aumento mediano no nível de folato foi de 11,2 ng/mL com o enalapril associado ao ácido fólico versus 4,4 ng/mL com o enalapril isoladamente (sem valor de p relatado). Não houve diferenças significativas nas medições de pressão arterial sistólica ou diastólica basal ou de acompanhamento entre os grupos. Comparando a associação do enalapril ao ácido fólico com o enalapril isoladamente, o primeiro AVC ocorreu em 2,7% versus 3,4% (p = 0,003, NNT = 141) e um AVC isquêmico foi relatado em 2,2% versus 2,8% (p = 0,002, NNT = 167). O enalapril adicionado ao ácido fólico também foi associado a uma redução no desfecho composto de AVC, infarto do miocárdio ou morte cardiovascular (3,1% versus. 3,9%, p = 0,002, NNT = 125), mas não houve nenhuma diferença significativa entre os grupos nas taxas de acidente vascular cerebral hemorrágico, infarto do miocárdio, morte cardiovascular, mortalidade por todas as causas ou eventos adversos. A análise de subgrupo por polimorfismos no gene C677T da metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR) não encontraram diferenças significativas nas taxas de primeiro AVC por genótipo.

Os resultados deste estudo sugerem que a adição do ácido fólico ao enalapril pode resultar em uma pequena, mas significativa, redução na incidência de acidente vascular cerebral primário entre os pacientes com hipertensão. Embora a magnitude da redução tenha sido pequena, a adição de ácido fólico à medicação anti-hipertensiva pode ser uma forma fácil e barata de reduzir ainda mais o risco de acidente vascular cerebral. Vale a pena considerar, no entanto, que os níveis basais de folato dos pacientes deste estudo podem ser menores do que em lugares onde há suplementação, limitando assim a generalização deste estudo. Além disso, embora a contribuição relativa da MTHFR tenha sido foi examinada, não está claro se as frequências dos polimorfismos da MTHFR são semelhantes em outras populações ou se diferenças na genética gerais da população iriam contribuir mais significativamente para o risco de AVC.

Para mais informações, veja os tópicos Prevenção do AVC, Suplementação vitamínica para a prevenção da doença cardiovascular e Homocisteína e doença cardiovascular na DynaMed.