Referência: Int J Obes (Lond). 2024 Jan; 48(1):83-93
Conclusão prática: Para atingir e manter um peso saudável, a água continua sendo a bebida de escolha.
Pérola da MBE: Estatísticas sofisticadas para imputar (ou seja, inventar) dados ausentes não são suficientes para recuperar as perdas de validade incorridas por taxas de atrito massivas.
Os pacientes frequentemente reclamam dos desafios para a perda de peso e da fissura por açúcar. Em resposta, os médicos geralmente sugerem a substituição das bebidas adoçadas com açúcar por bebidas adoçadas não nutritivas (NNS) que contenham adoçantes artificiais como aspartame ou sucralose, ou alternativas naturais como estévia ou álcoois de açúcar. O objetivo geral é reduzir a ingestão calórica, promover a perda de peso e incentivar uma mudança gradual para uma dieta mais saudável. Apesar do uso generalizado das NNS, as evidências de alta qualidade para apoiar essa abordagem são limitadas, e dados observacionais sugerem que pode, na verdade, haver danos, incluindo um aumento do risco das mortalidades cardiovascular e por todas as causas, resistência à insulina e perturbação do microbioma intestinal. Um estudo de equivalência recente publicado no International Journal of Obesity analisou mais atentamente como as bebidas NNS, como refrigerantes diet, afetam a perda de peso quando comparadas à água.
Um ensaio de equivalência é como um ensaio de não inferioridade bilateral, onde a hipótese nula é a de que os dois grupos são diferentes. Neste, os pesquisadores randomizaram 749 adultos saudáveis na Inglaterra (70% do sexo feminino, idade média de 45 anos) com um IMC de 27-35 para consumirem duas porções de 330 ml (11 onças) por dia de uma bebida NNS ou água. Ambos os grupos participaram de um programa de controle do peso em grupo que se reuniu semanalmente por 12 semanas, e depois mensalmente por 40 semanas. As bebidas NNS não foram permitidas para os participantes do grupo da água, mas a água foi permitida para aqueles designados para o grupo das bebidas NNS. O grupo das bebidas NNS tinha uma escolha entre 20 marcas diferentes oferecidas pelos pesquisadores e fornecidas pela American Beverage Association (problema n.1). Bebidas adoçadas com açúcar foram permitidas em ambos os grupos. A adesão foi medida por meio de registros diários on-line das bebidas, questionários periódicos da frequência alimentar e devolução das embalagens vazias das bebidas NNS. Os participantes foram excluídos do estudo se faltassem a > 3 sessões em grupo. O desfecho primário foi a mudança no peso corporal desde o início até a semana 52.
A 52 semanas, 65% (487) dos participantes randomizados tinham abandonado o estudo (problema n.2). Na tentativa de recuperar parte do poder perdido pela altíssima taxa de atrito (quase três vezes o número de desistências esperadas!), os dados ausentes foram imputados com base em dois mecanismos estatísticos diferentes (problema n.3) e analisados por intenção de tratar. Felizmente, uma análise pelo protocolo também foi realizada, evitando por pouco o problema de analisar apenas por intenção de tratar em um estudo de equivalência ou não inferioridade (sobre o qual escrevemos em outro EBM Focus). De acordo com a análise por protocolo, a 52 semanas o grupo das bebidas NNS teve estatisticamente mais perda de peso que o grupo da água (perda de peso média de 7,5 kg vs 6,1 kg, diferença entre os grupos de 1,4 kg [IC de 90% {problema n.4}: 0,2 - 2,6 kg, p < 0,05]). A significância estatística não persistiu quando analisada por intenção de tratar com qualquer um dos métodos de imputação. Não houve diferenças significativas nos desfechos antropomórficos secundários.
A 52 semanas, 65% (487) dos participantes randomizados tinham abandonado o estudo (problema n.2). Na tentativa de recuperar parte do poder perdido pela altíssima taxa de atrito (quase três vezes o número de desistências esperadas!), os dados ausentes foram imputados com base em dois mecanismos estatísticos diferentes (problema n.3) e analisados por intenção de tratar. Felizmente, uma análise pelo protocolo também foi realizada, evitando por pouco o problema de analisar apenas por intenção de tratar em um estudo de equivalência ou não inferioridade (sobre o qual escrevemos em outro EBM Focus). De acordo com a análise por protocolo, a 52 semanas o grupo das bebidas NNS teve estatisticamente mais perda de peso que o grupo da água (perda de peso média de 7,5 kg vs 6,1 kg, diferença entre os grupos de 1,4 kg [IC de 90% {problema n.4}: 0,2 - 2,6 kg, p < 0,05]). A significância estatística não persistiu quando analisada por intenção de tratar com qualquer um dos métodos de imputação. Não houve diferenças significativas nos desfechos antropomórficos secundários.
Então, o que tiramos desse ensaio? Que um programa de perda de peso supervisionado pode ajudar pacientes saudáveis e aderentes a perderem cerca de 6-7 kg (14 libras) ao longo de um ano, o que provavelmente tem pouco a ver com o fato de beberem água ou bebidas NNS. Todo o resto é marketing.
Para mais informações veja o tópico Dietas para perda de peso na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical. Editado por Alan Ehrlich, MD, FAAFP, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora-adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, MPH, FACP, editor adjunto da DynaMed; Vincent Lemaitre, PhD, editor médico da DynaMed; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada sênior da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.