Referência: ensaio LEAP (N Engl J Med 2015 Feb 26;372(9):803) (evidência de nível 2 [médio])
As alergias ao amendoim em crianças estão presentes em todo o mundo. Houve um aumento de alergia ao amendoim nos Estados Unidos de 0,4% em 1997 para 1,4% em 2008 (World Allergy Organ J 2013 Dec 4;6(1):21, J Allergy Clin Immunol 2010 Jun;125(6):1322). Em 2000, a Academia Americana de Pediatria recomendou a exclusão do amendoim das dietas das grávidas e lactantes de bebês com alto risco de desenvolver alergias e excluiu o amendoim da dieta das crianças até 3 anos de idade (Pediatrics 2000 Aug;106(2 Pt 1):346). Esta recomendação foi revogada em 2008 porque novos achados clínicos mostraram a não eficiência da eliminação de alimentos alérgicos da dieta e o aumento paradoxal das alergias(Pediatrics 2008 Jan;121(1):183, N Engl J Med 2003 Mar 13;348(11):977, Pediatrics 2006 Feb;117(2):401). Mesmo com estes dados, as questões referentes ao tempo de introdução destes alimentos para a prevenção de alergia continuaram sem resposta. Um recente estudo que envolveu 640 bebês de 4 a 11 meses com alto risco de desenvolver alergia comparou o consumo de amendoim versus evitar o amendoim até 60 meses. Os bebês de alto risco de foram definidos como aqueles com eczema severo, alergia a ovos ou ambos.
Antes da randomização, todas as crianças foram testadas para alergia ao amendoim com um teste cutâneo e estratificadas em grupos de acordo com a formação de pápulas. Os bebês sem nenhuma resposta cutânea ou com uma pápula de 1-4mm de diâmetro (positiva) foram randomizadas. Bebês com resposta cutânea de mais de 4mm de diâmetro foram excluídas por questão de segurança. Todas as crianças randomizadas para o consumo de amendoim receberam um teste alimentar não mascarado. Sete crianças com resposta evidente ao amendoim fora instruídas a evitar o amendoim, mas foram incluídas no grupo de consumo de amendoim para a análise de intenção de tratar. Todas as outras crianças com uma resposta basal negativa receberam 6g de proteína de amendoim divididas durante ao menos três refeições a cada semana. A alergia ao amendoim foi avaliada aos 60 meses com um teste alimentar.
A análise de intenção de tratar incluiu 98% das crianças e os resultados são mostrados na tabela abaixo. A tabela mostra as analises de acordo com a resposta cutânea. Não houve diferenças significativas nas taxas de hospitalização ou eventos adversos entre os grupos.
Este estudo sugere que o consumo precoce de amendoim pode diminuir o desenvolvimento de alergia ao amendoim em crianças com alto risco e a duração do estudo sugere que esta redução do risco não é transitória. Os resultados deste estudo mostram a importância de se embasar as recomendações clínicas em evidências provenientes de ensaios clínicos sempre que possível uma vez que, com frequência, os desfechos clínicos se revelam contraintuitivos. Mais estudos são necessários para determinar se a exposição precoce ao amendoim pode prevenir o desenvolvimento de alergia em crianças de baixo risco com resposta de sensibilidade ao teste cutâneo e se esses resultados podem ser generalizados para outros alérgenos alimentares comuns. Para mais informações, veja o tópico Alergia alimentar na Dynamed.