Referência: Lancet Diabetes Endocrinol 2017 Jan 5 early online (evidência de nível 3 [indireta])
- A cirurgia bariátrica é recomendada para alguns adolescentes que têm obesidade e comorbidades, mas faltam informações sobre os resultados no longo prazo.
- Neste estudo não controlado, 58 pacientes ≤ 21 anos de idade com obesidade grave submetidos a cirurgias bariátricas foram seguidos por um período entre 5 e 12 anos.
- Observaram-se perda de peso persistente e melhora das comorbidades, mas elas foram acompanhadas por deficiências de micronutrientes e necessidade de procedimentos gastrointestinais adicionais possivelmente relacionados à derivação gástrica.
A prevalência de obesidade em crianças e adolescentes de 2 a 19 anos nos Estados Unidos é estimada em 17% (Centers for Disease Control and Prevention). O American Society for Metabolic and Bariatric Surgery Pediatric Committee recomenda que a cirurgia bariátrica seja considerada para adolescentes que tenham atingido a altura de adulto e tenham um índice de massa corporal (IMC) ≥ 35 kg/m2 com comorbidade grave, como diabetes do tipo 2 ou IMC ≥ 40 kg/m2 com comorbidade menos grave, como hipertensão. Estudos controlados e não controlados que avaliam a cirurgia bariátrica em adolescentes sugerem efeitos favoráveis na redução do peso e na remissão de comorbidades (JAMA 2010 Feb 10;303(6):519, N Engl J Med 2016 Jan 14;374(2):113, Lancet Diabetes Endocrinol 2017b Jan 5 early online). No entanto, estão faltando estudos sobre o acompanhamento no longo prazo. Para avaliar os pacientes em um seguimento prolongado, 58 pacientes (idade média de 17 anos, 64% do sexo feminino) que haviam sido submetidos a cirurgias de derivação gástrica em Y de Roux no estudo Follow-up of Adolescent Bariatric Surgery Bariatric (FABS) foram incluídos no estudo de extensão FABS-5+ e avaliados durante uma média de 8 anos após a cirurgia. O estudo FABS-5+ incluiu 81% dos pacientes elegíveis do estudo FABS. O IMC médio basal dos 14 pacientes elegíveis que não participaram do estudo FABS-5+ (64,3 kg/m2) foi maior do que o do grupo que participou do estudo (58,5 kg/m2).
Na comparação com a linha basal, houve uma redução de 29% no IMC médio, de 58.5 kg/m2 para 41.7 kg/m2. No seguimento, 37% apresentaram IMC <35 kg/m2 e 87% apresentaram redução ≥ 10% no IMC. Além disso, houve uma redução significativa nas comorbidades, com a taxa de hipertensão diminuindo de 47% para 16% (p = 0,001), a de dislipidemia de 86% para 38% (p <0,0001) e a de diabetes tipo 2 de 16% para 2% (p = 0,03). As taxas de hipertensão e dislipidemia no seguimento refletem remissão na maioria dos pacientes, mas também novas ocorrências em alguns pacientes. As deficiências de micronutrientes no seguimento incluíram baixos níveis de ferro, vitamina B12 e vitamina D. Além disso, 45% tiveram hiperparatiroidismo no seguimento. Os pacientes foram submetidos a outros procedimentos que podem ter sido relacionados à cirurgia de derivação gástrica, incluindo endoscopia alta em 13 pacientes (22%), colecistectomia em 12 pacientes (21%), reparação de perfuração gastrointestinal em 3 pacientes (5%), transfusão de sangue em 2 pacientes (3%) e laparoscopia exploratória em 2 pacientes (3%).
Nesta série de casos, os benefícios da cirurgia bariátrica, incluindo a redução de peso e a remissão das comorbidades, persistiram por uma média de 8 anos após a cirurgia. No entanto, quase dois terços dos pacientes ainda tinham um IMC ≥ 35 kg/m2. Os autores relatam uma forte correlação (r = 0,75) entre o IMC basal e o IMC no seguimento em longo prazo. Além disso, houve uma relação significativa entre o IMC no seguimento e o risco de dislipidemia ou hipertensão arterial. Por cada 10 kg/m2 a mais no IMC, houve um risco 34% maior de dislipidemia e um risco 46% maior de hipertensão. Esses dados sugerem que o IMC basal pode influenciar o risco de comorbidade após a cirurgia bariátrica. É importante notar que o IMC médio basal do grupo de pacientes que não se inscreveram no estudo de extensão foi maior do que aqueles que o fizeram. Esta é uma fonte potencial de viés que pode ter resultado em uma superestimação dos efeitos benéficos neste estudo. Além disso, estudos controlados são necessários para fornecer evidências mais conclusivas sobre os resultados a longo prazo. No geral, este estudo sugere que a cirurgia bariátrica em adolescentes pode proporcionar benefícios de saúde no longo prazo em pacientes obesos selecionados e que é necessário monitorar cuidadosamente os potenciais déficits nutricionais. As decisões sobre realizar ou não a cirurgia devem pesar a potencial necessidade de procedimentos gastrointestinais adicionais em relação aos benefícios para a saúde esperados.
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