Referência: N Engl J Med. 2023 Aug 17; 389(7):602-611
Conclusão prática: A dieta MIND (uma combinação das dietas mediterrânea e DASH) não parece melhorar a função cognitiva em idosos de maneira mais intensa do que uma dieta saudável com o apoio de nutricionistas.
Pílula da MBE: A pesquisa na área da nutrição é difícil, e mesmo com ECR´s pode haver múltiplos fatores a se considerar tanto em relação à metodologia quanto à análise dos resultados.
A dieta MIND—abreviação de Mediterranean DASH Intervention for Neurodegenerative Delay—combina elementos das dietas mediterrânea e DASH. Ela é um pouco como uma dieta DASH que enfatiza o consumo semanal de peixe. Ao contrário das dietas mediterrânea e DASH, a dieta MIND não enfatiza a ingestão diária de frutas, tem componentes separados para frutas vermelhas e nozes e promove o consumo regular de vegetais folhosos verdes. Estudos observacionais têm sugerido que a dieta MIND pode estar associada a uma redução no risco de demência, mas esse achado ainda é apoiado em estudos de maior qualidade? Um ensaio publicado recentemente no NEJM ajuda a responder a essa pergunta.
Os autores deste ensaio clínico randomizado e controlado incluíram 604 adultos com idades ≥ 65 anos sem declínio cognitivo, mas com uma história familiar de demência, IMC > 25 e dieta subótima (medida por um escore MIND ≤ 8). Os participantes foram recrutados após responderem a um anúncio e foram incluídos apenas se tivessem aderido durante um período inicial de entrada de 4 semanas. Eles foram alocados 1:1 para fazerem a dieta MIND com restrição calórica leve ou uma dieta habitual com restrição calórica semelhante. O grupo da intervenção recebeu um suprimento mensal de mirtilos, castanhas mistas e azeite de oliva. Os autores avaliaram a cognição 4 vezes ao longo de 3 anos pelo uso de uma bateria de 12 testes da função cognitiva estabelecidos (incluindo o MOCA), abrangendo memória, função executiva e velocidade perceptiva. Em 200 participantes, os pesquisadores também mediram o volume total do cérebro, o volume do hipocampo e as lesões na substância branca com ressonâncias magnéticas antes e depois do estudo. Vários métodos estatísticos foram aplicados, incluindo modelos lineares de efeitos mistos. A 3 anos, 93,4% dos participantes haviam completado o estudo. Ao final do estudo, ambos os grupos apresentaram melhora cognitiva, com aumento de 0,205 unidade padronizada no grupo da dieta MIND e 0,170 no grupo da dieta controle (diferença média = 0,035, IC 95% = -0,022 a 0,092). Os achados de RM também foram semelhantes entre os dois grupos.
Não é muito surpreendente que ambos os grupos tenham se saído bem, pois ambos receberam um suporte nutricional bastante intensivo com aconselhamento semanal durante os primeiros 6 meses, a cada duas semanas durante os segundos 6 meses e duas vezes por mês para o restante do estudo. Além disso, este ensaio incluiu um grupo muito específico de pessoas que eram mais propensas a se saírem bem já no princípio: uma coorte em geral com boa educação formal que demonstrou adesão a uma dieta de restrição calórica como uma estipulação para a participação no estudo. Esse grupo escolhido a dedo pode não apenas limitar a generalizabilidade, mas também enviesar os resultados. Por fim, embora 3 anos sejam um período experimental bastante longo no geral, um acompanhamento mais longo (e uma adesão por mais tempo) pode ser necessário para se observar um efeito sobre desfechos como a cognição.
A conclusão memorável aqui é a de que provavelmente não faz mal incentivar adultos idosos a adotarem um estilo de vida saudável com uma dieta rica em antioxidantes provenientes de alimentos como vegetais folhosos verdes, nozes, frutas vermelhas e azeite de oliva, mas isso não parece fazer uma diferença apreciável em sua função cognitiva. Considerando que o corpo de evidências ainda é relativamente pequeno para a dieta MIND, novas pesquisas, especialmente estudos com seguimentos mais longos, controles melhores e coortes menos tendenciosas, não seriam despropositadas para avaliar mais completamente qualquer impacto potencial que essa dieta possa ter sobre a função cognitiva.
Para mais informações consulte o tópico Demência de Alzheimer na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Elham Razmpoosh, PhD, pesquisadora em pós-doutorado na Universidade McMaster. Editado por Alan Ehrlich, MD, FAAFP editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Dan Randall, MD, MPH, FACP, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, editor médico da DynaMed; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.