Referência: BMJ. 2022 May 18;377:e069676
A síndrome da COVID-19 pós-aguda, comumente chamada de "COVID longa", manifesta-se como uma miríade de sintomas que vão desde fadiga e insônia até deficiências sensoriais, de memória e de mobilidade que duram mais de 3 meses após uma doença aguda de COVID-19. A incidência varia consideravelmente, e é relatada como sendo de até 74%. Atualmente, os médicos têm poucas opções para um tratamento efetivo. Vários relatos levantaram a possibilidade de que as vacinas contra COVID podem melhorar os sintomas da COVID longa. Recentemente, pesquisadores do Reino Unido decidiram estudar essa questão.
Um estudo prospectivo de coorte foi realizado utilizando dados da COVID-19 Infection Survey, iniciada em abril de 2020. Este estudo incluiu participantes de 18 a 69 anos com um swab ou teste sorológico positivos prévios e recebimento de pelo menos uma vacina COVID-19 após um resultado de teste positivo. Os participantes foram acompanhados por uma mediana de 141 dias, com testes de COVID semanalmente por quatro semanas e depois mensalmente. Os registros vacinais foram autorrelatados e confirmados usando-se dados de registro de vacinas na Inglaterra. Em fevereiro de 2021, os pesquisadores adicionaram perguntas relacionadas aos sintomas longos da COVID que foram relatados por 6.729 (23,7%) participantes.
Este estudo utilizou análises de séries temporais interruptas em nível individual, essencialmente uma análise de antes e depois usando cada participante como seu próprio controle. Os resultados não demonstraram redução dos sintomas de COVID longa ao longo do tempo antes da vacinação. Foi demonstrada uma redução nos sintomas de COVID longa após a primeira e a segunda doses da vacina (odds ratio ajustada [aOR]: 0,87; IC de 95%: 0,81 -0,93 e aOR de 0,91, IC de 95%: 0,84 -0,98, respectivamente). Em múltiplas análises de seguimento, não houve diferença nesses achados por demografia do paciente, gravidade da doença, tipo de vacina recebida ou outras covariáveis.
Estudos de séries temporais interruptas têm-se tornado cada vez mais populares no estudo de intervenções em saúde pública, com a esperança de se limitarem os possíveis confundidores. Mas isso realmente acontece? Neste caso, os sintomas da COVID longa podem se resolver espontaneamente. Portanto, sem um grupo de controle, não há como dizer se as melhorias vistas foram simplesmente por se observar os participantes por um período de tempo maior ou devido a um efeito da vacina. As limitações adicionais desses dados incluem o potencial para viés dos voluntários saudáveis e o diagnóstico de COVID longa ser relatado pelos participantes. Dada a ausência de danos demonstrados pelas vacinas e o potencial para melhorar os sintomas longos da COVID, os médicos devem continuar a oferecer vacinação aos pacientes com infecção anterior por COVID-19 e sintomas vagos e continuados.
Para mais informações, consulte o tópico COVID-19 (Novo Coronavírus) na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Carina Brown, MD, professora assistente na residência de Medicina de Família da Cone Health. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, médica de família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.