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Reference: Acad Emerg Med 2014 Apr;21(4):374 (evidê ncia de nível 1 [provavelmente confiável)
A osteoartrose sintomática do quadril está associada a dor nas articulações e redução da funcionalidade. As diretrizes da Osteoarthritis Research Society International (OARSI) recomendam o encaminhamento para um fisioterapeuta (OARSI Nível IV) para pacientes com osteoartrose sintomática do quadril (Osteoarthritis Cartilage 2008 Feb;16(2):137). Estas recomendações afirmam que os fisioterapeutas podem realizar a avaliação inicial e a instrução de exercícios adequados para reduzir a dor e melhorar a capacidade funcional, além de poderem ser úteis ao recomendar dispositivos auxiliares (bengalas ou andadores) quando apropriados. No entanto, faltam dados clínicos que apoiem a fisioterapia para essa população de pacientes. Um estudo randomizado recente comparou um regime de fisioterapia multimodal com uma terapia placebo em 102 pacientes residentes na comunidade (idade média de 64 anos) com osteoartrose do quadril sintomática e confirmada por radiografia.
Os pacientes foram aleatoriamente distribuídos para fazerem fisioterapia ou uma terapia simulada por 10 sessões ao longo de 12 semanas e acompanhados por 36 semanas. O grupo da fisioterapia recebeu orientações e aconselhamento, terapia manual e uma bengala, se considerada adequada, seguidos de 4-6 exercícios domiciliares sem supervisão, realizados quatro vezes por semana. O grupo da terapia simulada recebeu um ultrassom e um gel inativo, seguidos da autoaplicação de gel inerte 3 vezes por semana durante o seguimento. No início do estudo, todos os pacientes tiveram uma dor no quadril com pontuação ? 40 mm (média 58 milímetros) em uma escala visual analógica (intervalo de 0-100 mm, com escores mais altos indicando dor mais grave). A pontuação de função física média na sub-escala específica de função do quadril do “Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index” ao início do estudo foi de 32,4 pontos (faixa de 0 a 68 pontos, com escores mais altos indicando pior função). As diferenças clinicamente significativas importantes mínimas foram definidas como 18 milímetros para o escore de dor e 6 pontos para a pontuação de função física. O desfecho primário foi baseado na avaliação em 13 semanas e os desfechos secundários avaliados a 36 semanas.
A perda de acompanhamento foi de 6% na semana 13 e 19% na semana 36, mas todos os pacientes foram incluídos na análise de eficácia. Os pacientes do grupo da fisioterapia compareceram, em média, a 9,6 de 10 sessões de tratamento e a adesão ao exercício domiciliar foi em média, de 85% com base em questionários de auto preenchimento. A pontuação de dor no quadril total média em 13 semanas foi de 40,1 mm com fisioterapia versus 35,2 milímetros com a terapia placebo. O intervalo de confiança de 95% para a diferença entre os grupos variou de 3,9 milímetros em favor de fisioterapia para 17,7 milímetros em favor da terapia placebo. Da mesma forma, a pontuação de função física do quadril média em 13 semanas foi de 27,5 pontos com a fisioterapia versus 26,4 pontos com a terapia placebo. O intervalo de confiança de 95% para a diferença entre os grupos foi de 3,8 pontos em favor de fisioterapia a 6,5 pontos em favor da terapia placebo. A frequê ncia de eventos adversos leves, principalmente aumento da dor no quadril ou dor em outras regiões, nas 13 semanas, foi de 41% com a fisioterapia versus 14% com a terapia placebo (p = 0,003, NNH = 3). Os resultados a 36 semanas também não apresentaram diferenças significativas entre os dois grupos para dor ou escores de função física do quadril. A proporção de pacientes que acreditaram ter recebido tratamento ativo foi de 62% no grupo da fisioterapia e de 25% no grupo placebo na semana 36. O custo da intervenção fisioterapê utica multimodal estudada não foi relatado.
A fisioterapia para pacientes com osteoartrose sintomática do quadril frequentemente emprega uma abordagem multimodal, incluindo orientações, terapias manuais e vários exercícios. Apesar de alguns estudos anteriores terem avaliado alguns dos componentes específicos envolvidos, esse é o primeiro estudo a avaliar de maneira rigorosa diversos aspectos da fisioterapia com o uso de um controle por placebo confiável, o que potencialmente reduz o risco de viés nos resultados que são de natureza subjetiva, como os escores de dor. Devido a isso, esses dados fornecem a melhor evidê ncia até o momento sobre os efeitos de um amplo conjunto de componentes da fisioterapia, sendo o mais importante uma combinação de terapia manual e exercícios domiciliares sem supervisão, para dor ou função do quadril. Os resultados sugerem que essa terapia física tem um valor limitado para esses pacientes e pode até mesmo prejudica-los aumentando a frequê ncia de eventos adversos leves como o aumento da dor no quadril ou em outras regiões. Apesar de uma maior proporção de pacientes no grupo da fisioterapia estarem cientes de que receberam o tratamento ativo a 36 semanas, é pouco provável que isso tenha tido impacto substancial nos resultados de dor ou função física.
Uma atualização recente de uma revisão Cochrane identificou 10 estudos randomizados que compararam os exercícios em solo (a hidroginástica foi analisada separadamente) com controles sem exercícios ativos ou qualquer tratamento em 554 adultos com osteoartrose do quadril (Cochrane Database Syst Rev 2014 Apr 22;(4):CD007912). Os critérios de inclusão permitiram tanto exercícios supervisionados como domiciliares com monitoramento mínimo. Em uma meta-análise de nove estudos, o exercício foi associado a uma melhora estatisticamente significativa, mas clinicamente insignificante, da dor. Da mesma forma, uma meta-análise separada de 9 ensaios mostrou que o exercício foi associado a uma melhora estatisticamente significativa na função física, com um intervalo de confiança de 95% que incluiu tanto diferenças clinicamente importantes quanto sem importância.
O termo “fisioterapia” é uma definição genérica que pode se referir a muitas intervenções diferentes, e isso faz com que seja difícil fazer conclusões gerais sobre seu uso em pacientes com osteoartrose sintomática do quadril. O uso de exercícios em domicílio sem supervisão em particular, avaliado nesse estudo, pode ser uma limitação, uma vez que os terapeutas tê m pouca capacidade de assegurar que os exercícios estejam sendo feitos da maneira correta. Além disso, embora a adesão aos exercícios em casa tenha sido relatada como de cerca de 85% nos pacientes que receberam a terapia física, isso foi, necessariamente, uma estimativa auto relatada por pacientes sem supervisão. No entanto, a evidê ncia trazida por esse estudo não apoia a eficácia da fisioterapia como tratamento nesse contexto clínico.
Para mais informações, veja o tópico Doença articular degenerativa do quadril no Dynamed.