Glibenclamida associada a risco aumentado de desfechos neonatais adversos em comparação com a insulina em mulheres com diabetes gestacional

MBE em Foco - Volume 3, Issue 9

Referência: JAMA Pediatr 2015 May 1;169(5):452 (evidência de nível 2 [médio])

O diabetes mellitus gestacional afeta aproximadamente 7% de todas as gestações e está associado a um risco aumentado de complicações maternas e neonatais (Diabetes Care 2014 Jan;37 Suppl 1:S81, Diabetes Care 2007 Jul;30 Suppl 2:S251). A identificação e o tratamento adequados do diabetes gestacional, entretanto, podem diminuir esses riscos (BMJ 2010 Apr 1;340:c1395, N Engl J Med 2009 Oct 1;361(14):1339). A American Diabetes Association recomenda o tratamento inicial do diabetes gestacional com dieta e exercícios, com adição de insulina ou hipoglicemiantes orais, se necessários (Diabetes Care 2015 Jan;38 Suppl 1:S1 PDF). Atualmente, a evidência que compara a insulina com os hipoglicemiantes orais, incluindo a glibenclamida, é limitada. Um estudo de coorte retrospectivo recente avaliou os resultados maternos e neonatais em 9.137 mulheres atendidas em seguros privados que tinham diabetes e receberam prescrições de glibenclamida ou insulina em um prazo de 150 dias do parto. Todas as mulheres incluídas tinham gestações únicas.

A duração média dos tratamentos foi de 50,4 dias para as 4.982 mulheres (54,3%) que receberam glibenclamida e 54,1 dias para as 4.191 mulheres (45,7%) que receberam prescrição de insulina. Em uma análise ajustada para idade e outras variáveis, o uso da glibenclamida foi associado a um risco aumentado de complicações neonatais em comparação com a insulina, incluindo internação em unidades de terapia intensiva neonatais (risco relativo [RR] ajustado: 1,41; IC de 95%: 1,23-1,62; NNH: 25- 60), desconforto respiratório (RR ajustado: 1,63; IC de 95%: 1,23-2,15; NNH: 61-233) e recém-nascidos grandes para a idade gestacional (RR ajustado: 1,43; IC de 95%: 1,16-1,76; NNH: 46-164). A glibenclamida também foi associada de maneira não significativa a riscos aumentados de hipoglicemia e trauma ao nascimento, mas não houve diferenças nos riscos de trauma obstétrico, parto por cesariana, icterícia ou prematuridade.

Embora limitado pelo seu desenho de coorte retrospectivo, este estudo permite a análise de um grupo muito maior de mulheres que o relatado em estudos observacionais ou ensaios clínicos randomizados. O maior ensaio randomizado que comparou a glibenclamida com a insulina incluiu 404 mulheres e não encontrou diferenças significativas nos resultados neonatais (N Engl J Med 2000 Oct 19;343(16):1134), mas provavelmente não teve potência suficiente para detectar diferenças nestes desfechos. Os resultados deste novo estudo são consistentes com a tendência dos resultados do ensaio anterior, mas a população de pacientes 20 vezes maior aumentou a capacidade do presente estudo para detectar diferenças nos resultados neonatais, que afetam uma pequena percentagem de pacientes. Este estudo também reflete condições reais, em vez dos protocolos rigidamente controlados encontrados em muitos ensaios clínicos randomizados. No geral, os resultados deste estudo sugerem que a glibenclamida pode estar associada a um maior risco de complicações que a insulina em mulheres com diabetes gestacional que necessitam de medicação.

Para mais informações, veja o tópico Diabetes Mellitus Gestacional (GDM) na DynaMed.