Gravidez indesejada e os riscos associados de desfechos maternos e fetais adversos

MBE em Foco - Volume 8, Issue 19

Referência: JAMA. 2022 Nov 1;328(17):1714-1729

Conclusão prática: Quaisquer que sejam os fatores que contribuam para uma gravidez indesejada, há aumentos nos riscos de desfechos maternos e fetais adversos que podem ser evitados com conscientização e ação apropriadas.

Pílula da MBE: Quando ensaios clínicos randomizados não são possíveis, uma revisão sistemática e metanálise de dados observacionais de alta qualidade pode fornecer orientações razoáveis para a assistência.

Quase metade das gestações nos EUA (e em todo o mundo) não são intencionais. O conhecimento dos efeitos sobre a saúde das gestações indesejadas tem sido baseado na observação de tendências nos desfechos de saúde maternos e fetais ao longo do tempo, quando se solicita às pacientes grávidas que se lembrem sobre se desejavam uma gravidez no momento da concepção. Isso é assim porque ensaios randomizados que avaliam intervenções em mulheres grávidas seriam extremamente antiéticos. Imagine dizer a uma gestante "tome isso aqui e vamos ver como seu bebê vai ficar" -não é aceitável. Então, quando se trata de questões relacionadas à gestação, quase sempre nos contentamos com dados observacionais e as associações que podem ser feitas a partir deles como a melhor evidência disponível. Uma maneira de nos aproximarmos da identificação de relações causais em condições difíceis de estudar, no entanto, é com revisões sistemáticas e meta-análises de alta qualidade.

Uma meta-análise recente na edição de 1º de novembro do JAMA, que foi dedicada à saúde reprodutiva, é um bom exemplo de como uma revisão sistemática pode elevar o nível de evidência existente. Dois fatores são fundamentais na determinação da alta qualidade de uma revisão sistemática de dados observacionais: uma busca sistemática com critérios de inclusão adequados, e uma avaliação transparente da qualidade dos estudos com o uso de um sistema validado de pontuação. Essa revisão sistemática realizou um bom trabalho ao avaliar quais estudos eram bons o suficiente para serem combinados em uma meta-análise (lembre-se: se entrar lixo, sai lixo). Dados de 36 estudos observacionais compararam os desfechos de gestações não intencionais (inclusive inoportunas) versus pretendidas em 524.522 pacientes grávidas que vivem em países com altos recursos. A metanálise constatou que a gravidez não intencional esteve associada a aumentos nos riscos de parto prematuro, baixo peso ao nascer, depressões pré-natal e pós-parto e violência interpessoal, tendo esta última a associação mais forte, com uma razão de chances de 2,22. Embora muitos dos estudos incluídos tenham sido responsáveis pela história de depressão, a maioria tinha dados sociodemográficos limitados e ajustes variáveis para fatores confundidores.

Não é possível distinguir através de dados observacionais se o fato de uma gestação não ser intencional é a ligação direta com um desfecho materno ou fetal adverso, ou se existem associações compartilhadas, como o status socioeconômico, que medeiam essa relação. No entanto, essa meta-análise de alta qualidade nos fornece certeza suficiente para informar a prática clínica e as políticas de saúde, de modo que possamos voltar nossa atenção para a prevenção de gestações indesejadas e dos resultados adversos na saúde que a seguem.

Para mais informações consulte o tópico Fatores de Risco para Parto Prematuro e Parto Prematuro na DynaMed.

Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed

Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior da DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.