Referência: N Engl J Med. 2021 Out 6
Em maio deste ano, o CDC emitiu um comunicado sobre um possível risco de miocardite ligado às vacinas de mRNA contra a COVID-19 da Pfizer e da Moderna. Esse risco foi recentemente avaliado em um grande estudo de coorte retrospectivo realizado em Israel. Utilizando a base de dados da principal organização nacional de saúde daquele país, os pesquisadores avaliaram os registros eletrônicos de saúde de todas as pessoas com 16 anos ou mais de idade que receberam pelo menos uma dose da vacina BNT162b2 da Pfizer entre dezembro de 2020 e maio de 2021. Cada caso de miocardite que ocorreu dentro de um prazo de 42 dias após a primeira dose da vacina foi avaliado com base nos critérios do CDC.
A coorte incluiu mais de 2,5 milhões de pessoas com idade mediana de 44 anos, das quais 94% receberam duas doses da vacina. Ao todo, 54 pacientes apresentaram miocardite, resultando em uma incidência estimada de 2,13 casos por 100.000 pessoas. A maioria (76%) dos casos de miocardite foi classificada como de gravidade leve, enquanto 22% foram de gravidade intermediária e 2% foram fulminantes. Os pacientes do sexo masculino apresentaram um risco notavelmente maior de desenvolvimento de miocardite, com incidência de 4,12 casos por 100.000 pessoas, em comparação com apenas 0,23 caso por 100.000 pacientes do sexo feminino. Além disso, o risco aumentou significativamente nos adolescentes e jovens, com incidência de 10,69 por 100 mil pessoas de 16 a 29 anos, em comparação com 2,11 por 100 mil homens com 30 anos ou mais. A incidência de miocardite entre as mulheres também foi dependente da idade, embora em menor grau, com 0,34 caso por 100.000 pessoas de 16 a 29 anos e 0,2 casos por 100.000 mulheres de 30 anos ou mais.
Em relação à apresentação clínica, 83% dos 54 pacientes que desenvolveram miocardite não apresentavam afecções clínicas coexistentes. Nos 38 pacientes com dados de ECG disponíveis, 53% apresentaram elevação do segmento ST, 26% apresentaram anormalidades mínimas e 21% apresentaram achados normais. Entre os 48 pacientes com achados ecocardiográficos, 14 apresentavam disfunção ventricular esquerda, a qual persistiu em 10 pacientes até o momento da alta. Sessenta e cinco por cento dos pacientes afetados tiveram alta hospitalar sem necessidade de tratamento médico continuado. Após um acompanhamento mediano de 83 dias após o início da doença, um paciente teve que ser reinternado e um paciente com doença cardíaca pré-existente morreu por causa não especificada.
Este grande estudo de coorte estima a incidência de miocardite após se receber a vacina de mRNA contra a COVID-19 da Pfizer em 2,13 casos por 100.000 pessoas. A título de comparação, o risco de desenvolvimento de miocardite a partir de uma infecção por COVID-19 em indivíduos saudáveis pode ser de até 3%. Este estudo não é isento de limitações, principalmente com base no desenho do estudo e no uso de prontuários para o diagnóstico. Além disso, casos podem ter sido perdidos por falta de dados específicos ou se o diagnóstico tiver sido feito em um hospital fora da rede e, portanto, não tiver sido notificado. No cerne da situação, o risco de miocardite por uma vacina contra a COVID parece menor do que o risco de miocardite pela COVID-19, o que é mais uma razão para se vacinar.
Para obter mais informações, consulte o tópico COVID-19 (Novo coronavírus) da DynaMed.
Equipe Editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Vincent Lemaitre, PhD, autor médico da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Carina Brown, MD, professora assistente na residência de Medicina de Família da Cone Health; Katharine DeGeorge, MD, MS, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical; e Christine Fessenden, assistente de operações editoriais da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MS, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.