Indução do parto por suspeita de macrossomia fetal entre 37 e 38 6/7 semanas de idade gestacional pode reduzir distocia do ombro

MBE em Foco - Volume 3, Issue 16

Referência - Lancet 2015 June 27;385(9987):2600 (evidência de nível 2 [médio])

A macrossomia fetal e o status de “grande para a idade gestacional” estão associados a um risco aumentado de complicações neonatais e maternas, incluindo distocia do ombro e cesariana de emergência (Aust N Z J Obstet Gynaecol 2009 Oct;49(5):504). A cesariana profilática e a indução precoce já foram sugeridas para prevenir a continuidade do crescimento fetal e as complicações do parto. Nenhuma dessas estratégias, no entanto, é recomendada para uso de rotina em gestantes com suspeita de macrossomia fetal (Obstet Gynecol. 2002 Nov;100(5 Pt 1):1045, RCOG 2012 Mar PDF). Uma revisão Cochrane de 3 ensaios randomizados não havia encontrado nenhuma redução significativa no risco de distocia do ombro com a indução do parto. No entanto, este resultado é limitado pelo fato de a maior parte das mulheres incluídas estar em ≥40 semanas de gestação e pelo pequeno número de ensaios encontrados (Cochrane Database Syst Rev 2000;(2):CD000938). Um estudo randomizado recente comparou a indução do parto com a conduta expectante em 822 gestantes com fetos únicos e idades gestacionais entre 36 e 38 semanas, com peso estimado maior que o percentil 95 para a idade gestacional. A indução ocorreu dentro de 3 dias de randomização, em idades gestacionais entre 37 e 38 6/7 semanas.

O desfecho primário foi um composto de distocia significativa do ombro, fratura de clavícula ou osso longo, lesão do plexo braquial, hemorragia intracraniana ou morte. A distocia significativa do ombro foi definida como dificuldade de liberação dos ombros não resolvida pela manobra de McRoberts, geralmente combinada com a pressão suprapúbica, ou nascimentos com > 60 segundos de intervalo entre as passagens da cabeça e do corpo. No geral, a indução do parto ocorreu em 89% das mulheres randomizadas para indução vs. 28% no grupo de conduta expectante. O resultado primário composto ocorreu em 2% dos recém-nascidos com indução versus 6% com a conduta expectante (p = 0,004, NNT = 25). Em análises de resultados individuais, indução do parto foi associada a uma redução nas distocias significativas do ombro (1% vs. 4%, p <0,05, NNT 34), bem como em qualquer distocia do ombro (4% vs. 8%, p <0,05, NNT = 25). Além disso, uma preocupação com a indução do parto é o risco de aumentar as taxas de cesariana, mas neste ensaio a indução foi associada a um aumento nos partos vaginais espontâneos (59% vs. 52%, p <0,05, NNT = 15) e diferenças não significativas nas taxas de cesariana ou parto vaginal assistido. Não houve diferenças significativas em outros resultados adversos maternos ou nas taxas de fraturas neonatais, e nenhum caso de lesão do plexo braquial, hemorragia intracraniana ou morte neonatal.

O ensaio foi interrompido precocemente devido à lentidão no recrutamento, após terem sido incluídas 822 mulheres, enquanto o planejamento original foi de 1.000 mulheres. No entanto, este ensaio ainda foi muito maior que os estudos anteriores que avaliaram a indução do parto por macrossomia fetal e teve, portanto, melhor poder para detectar diferenças nos desfechos que ocorreram em uma pequena porcentagem de recém-nascidos. A maioria dos ensaios da revisão Cochrane anterior foram pequenos, com apenas 372 nascimentos e 18 casos de distocia do ombro nos 3 ensaios combinados (Cochrane Database Syst Rev 2000;(2):CD000938). Neste ensaio, outros dsfechos adversos neonatais, incluindo a admissão à unidade de terapia intensiva neonatal e a hiperbilirrubinemia, foram semelhantes entre os grupos, sugerindo que a indução do parto não aumentou o risco de morbidade para a mãe ou o filho. É interessante notar, no entanto, que estudos anteriores já haviam mostrado aumento da morbidade em uma grande coorte de crianças paridas eletivamente entre 37 e 39 semanas, apesar de não haver análise do subgrupo de crianças grandes para a idade gestacional. No geral, estes novos resultados sugerem que a indução do parto pode ser a opção de escolha em recém-nascidos no início do termo com suspeita de macrossomia.

Para mais informações, veja o tópico Distocia do ombro na DynaMed.