Referência: JAMA Intern Med. 2023 Oct 1;183(10):1061-1068
Conclusão prática: Certifique-se de que um manguito de pressão arterial de tamanho adequado esteja sendo usado para evitar o subdiagnóstico e o tratamento excessivo da hipertensão.
Pílula da MBE: Ensaios cruzados são ensaios em que os participantes servem como seus próprios controles para uma ou mais intervenções (ou avaliações). Os efeitos sobre todos os indivíduos também são comparados para se chegar a uma avaliação final da efetividade das intervenções avaliadas.
Cenário: A folha na porta do consultório mostra uma pressão arterial (PA) de 160/97 (aferida pela enfermeira). Há alguns eventos que podem se seguir a partir daí: 1) Você ajusta os medicamentos para a PA do paciente e segue para os outros problemas da lista; 2) Você verifica manualmente a PA e ajusta o tratamento conforme necessário; ou 3) Você realiza a consulta de costume e solicita à enfermeira que verifique novamente a PA ao final da consulta (supondo que a leitura elevada tenha sido devida à correria no processo de chegada e triagem) e ajusta as medicações se necessário. Mas como a pessoa que mede a PA inicialmente muitas vezes não é a pessoa que trata a PA, considerações relacionadas à forma como a PA é medida (como o tamanho do manguito) podem não estar recebendo a atenção que merecem. Bem, um novo ensaio cruzado (ensaio Cuff(SZ)) publicado no JAMA sugere fortemente que o tamanho do manguito merece sua atenção.
Estudos prévios que avaliaram o efeito do tamanho do manguito sobre a medida da pressão arterial foram feitos com medidas manuais e em populações especializadas de pacientes. No entanto, sabemos que as leituras da PA são afetadas pela forma como a pressão arterial é aferida (maior com a manual do que com a automatizada) e por quem as está fazendo (maior com os médicos do que com enfermeiros/auxiliares). Os autores deste estudo avaliaram o efeito do uso de um manguito para PA de tamanho adulto "regular", independentemente do tamanho do braço, quando medida com um aparelho automático em 195 adultos residentes na comunidade (34% homens, 68% negros, 51% com hipertensão) com uma ampla gama de circunferências braquiais. Os pesquisadores atribuíram aleatoriamente a ordem em que as medidas da PA seriam tomadas com manguitos muito pequenos, muito grandes ou de tamanho apropriado (pelo menos um dos quais era de tamanho regular), terminando com uma quarta medida usando o manguito de tamanho apropriado. As medidas foram baseadas na média das leituras em triplicata.
A discrepância dos manguitos nas leituras da PA foi mais marcante para aqueles adultos que precisavam de um manguito extragrande (2 tamanhos maiores que o normal), mas cujas aferições foram realizadas com o uso de um manguito regular: o manguito de tamanho regular superestimou a pressão arterial em uma média de 19,5/7,4 mmHg. Um manguito de apenas um tamanho acima superestimou a PA em uma média de 4,8/1,8 mmHg. Para aqueles para os quais o manguito regular era de um tamanho muito grande, as medidas com o manguito de tamanho regular subestimaram a pressão arterial em uma média de -3,6/-1,3 mmHg.
Voltemos ao cenário lá de cima. Uma leitura da PA 20/7 mmHg acima da meta de acordo com o JNC8 (ou 30/17 mmHg acima da meta se você seguir a AHA/ACC) não é algo que um profissional normalmente ignora. Na prática de hoje, essa PA está sendo tratada (e nós nos referimos aqui à PA em vez do paciente). E isso é um problema. Então, da próxima vez que você estiver na clínica, faça um favor ao seu consultório e verifique se suas máquinas de PA automatizadas têm vários tamanhos de manguitos disponíveis, e certifique-se de que sua equipe os esteja usando. E então, se a leitura da PA estiver alta, considere verificá-la novamente. Como se diz na carpintaria: meça duas vezes, corte uma vez.
Para obter mais informações veja o tópico Medição e monitoramento da pressão arterial na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família da faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, editor médico da DynaMed; Elham Razmpoosh, PhD, pesquisadora em pós-doutorado na Universidade McMaster; e Sarah Hill, MSc, editora associada sênior da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.