O cérebro como alvo: metas mais baixas para a pressão arterial podem não reduzir o risco de demência

MBE em Foco - Volume 6, Issue 1

Referência: JAMA 2019 Feb 12;321(6):553 (evidência de nível 2 [médio])

O ensaio SPRINT, de 2015, demonstrou que o controle intensivo da pressão arterial, com o uso de uma meta para a pressão arterial sistólica de <120 mmHg, reduziu o risco de eventos cardiovasculares e morte por qualquer causa em comparação com uma meta de <140 mmHg. Esse benefício é baseado no uso tem um protocolo específico de aferição da pressão arterial e é aplicado ao custo de um maior risco de síncopes e hipotensão (vide o Resumo do ensaio SPRINT na DynaMed). O protocolo de aferição da pressão arterial exigiu que os participantes se sentassem sozinhos em um local silencioso por 5 minutos, tempo após o qual três aferições automáticas da pressão arterial eram obtidas e tinham suas medianas calculadas. O ensaio original foi interrompido precocemente após 4 anos devido a uma diferença no desfecho primário. O ensaio SPRINT MIND (JAMA 2019 Feb 12) é uma avaliação pré especificada dos efeitos do controle intensivo da pressão arterial sobre um provável desenvolvimento de demência. O desfecho cognitivo primário de ocorrência provável de demência foi determinado pelo uso de múltiplos métodos de avaliação de modo incremental. As testagens, realizadas em múltiplos pontos do tempo, incluíram a Montreal Cognitive Assessment (MoCA) presencial, testes de aprendizagem e memória e testagens da velocidade de processamento. Para aqueles com evidência de defasagem cognitiva, o Functional Activities Questionnaire também foi administrado. Se a testagem presencial não pudesse ser realizada, um questionário telefônico validado era realizado. Após a testagem os participantes foram categorizados como com ausência de déficit cognitivo, com déficit cognitivo leve, com provável demência, ou como não passíveis de classificação por um painel de especialistas cegos aos dados de alocação e de pressão arterial. As taxas de testagens completas foram de mais de 90% em ambos os grupos aos 4 anos, mas declinaram vertiginosamente à medida em que o ensaio foi encerrado (60% de testagens completas ao seguimento estendido mediano de 6 anos). Os 798 participantes excluídos da análise por impossibilidade de realização da testagem incluíram mais mulheres, minorias étnicas e aqueles com 75 anos ou mais. Ao longo do período de seguimento de 4 anos os autores não encontraram diferença no desfecho primário de provável ocorrência de demência nos pacientes com controle intensivo da pressão arterial em comparação com os de controle padrão da pressão arterial (razão de dano [HR] 0.83, IC de 95%: 0.67-1.04). Em uma análise secundária pré-especificada, houve uma redução no deficit cognitivo leve (14.6 vs. 18.3 por 1000 pessoas-anos, HR 0.81, IC de 95% 0.69-0.95).

O ensaio SPRINT MIND não foi capaz de demonstrar redução na demência com o controle intensivo da pressão arterial. Alguns comentaristas apontaram a redução na incidência do déficit cognitivo leve como uma evidência de benefício, mas esses resultados devem ser interpretados com cautela. A redução na taxa de deficit cognitivo leve foi de apenas 3.7 por mil pessoas-anos. O deficit cognitivo leve, por definição, não afeta a funcionalidade, e muitos pacientes que têm deficit cognitivo leve não desenvolvem demência. A demência tem uma progressão lenta, e o ensaio foi interrompido precocemente, com apenas quatro anos e com uma taxa alta de perdas ao acompanhamento estendido. Além da confusão pela alta taxa de perdas, aqueles sob risco aumentado de demência, tais como os que tinham diabetes ou história de acidente vascular cerebral, foram mais propensos a serem excluídos do ensaio e da análise dos dados, uma vez que maiores taxas de mulheres, pacientes de minorias étnicas e idosos não completaram a testagem cognitiva. Considere também que os participantes desse ensaio realizaram a medida da pressão arterial de uma maneira bastante diferente das leituras de pressão arterial obtidas na maioria dos consultórios lotados. Tudo isso precisa ser levado em conta quando discutimos as metas ideais de pressão arterial com nossos paciente idosos.

Para mais informações, veja os tópicos Demência de Alzheimer e Deficit cognitivo leve na DynaMed.