Perca peso dormindo?

MBE em foco - Volume 8, Issue 5

Referência: JAMA Intern Med. 2022 Apr 1;182(4):365

Há muito tempo já se estabeleceu que a privação do sono (seja por maus hábitos, filhos pequenos, problemas médicos ou animais de estimação/parceiros importunos) resulta em aumento de apetite e ganho de peso. Por exemplo, podemos facilmente fazer com que participantes de experimentos comam mais ao restringir seu sono. A novidade deste estudo recente da Universidade de Chicago é uma potencial intervenção sobre o sono baseada no mundo real, sugerindo que o aumento da duração do sono parece ajudar a reduzir o consumo calórico e o peso, pelo menos em curto prazo.

Os pesquisadores recrutaram 80 pessoas entre 21 e 40 anos de idade com índices de massa corporal em sobrepeso (25-29,9 kg/m²), hábito de dormir < 6,5 horas por noite e ausência de perturbadores médicos ou relacionados ao trabalho. A maioria das pessoas estava ocupada ou estudava em tempo integral, e cerca de 50% eram do sexo feminino (as mulheres que tomavam contraceptivos orais foram excluídas). Após a polissonografia, as avaliações do peso e da composição corporais basais, as estimativas metabólicas de consumo calórico e gasto energético, e uma medição de duas semanas da atividade e dos ciclos de sono/vigília por um dispositivo de pulso, o grupo de controle foi simplesmente monitorado por mais duas semanas. O grupo da intervenção recebeu uma avaliação individualizada de 1 hora das suas práticas de higiene do sono, seguida de ações práticas mutuamente acordadas para aumentar a duração do sono através da atenção a coisas como evitar cochilos, melhorar o ambiente e os hábitos de sono e melhorar a programação. Todos foram pesados em casa diariamente (os resultados foram ocultados dos participantes, mas registrados por balanças eletrônicas) e as medidas metabólica/de atividade/de consumo calórico/da composição corporal foram repetidas após mais duas semanas para todos os participantes.

O que aconteceu? Funcionou! As pessoas do grupo da intervenção cochilaram uma média de cerca de dez minutos a menos, mas dormiram por noite cerca de 1,2 hora a mais (IC de 95%: 1,0-1,4 hora, p < 0,001). Ambos os grupos acabaram sendo igualmente ativos, mas o grupo de intervenção comeu consideravelmente menos (270 kcal/dia a menos, IC de 95%: 147-393 kcal/dia, p < 0,001), e acabou perdendo uma pequena quantidade de peso (0,48 kg em duas semanas, IC de 95%: 0,35-1,39 kg perdido). As pessoas do grupo de controle ganharam 0,39 kg no mesmo período.

À primeira vista, uma intervenção que resultou na perda de peso de 0,48 kg pode não parecer significativa. Mas isso foi ao longo de duas semanas, o que é, na verdade, uma taxa muito razoável de perda se for sustentada. Até que os pesquisadores demonstrem um efeito que seja clinicamente significativo e sustentado, no entanto, não ficaremos tão impressionados. Mas há uma outra coisa que não pareceu tão certa sobre este estudo. Inicialmente consideramos que o benefício poderia ser simplesmente por um efeito Hawthorne, mas o efeito Hawthorne tem a ver com o impacto de ser observado, e ambos os grupos foram altamente examinados. Então consideramos uma variação do efeito de halo, em que um bom comportamento pode levar a outro (neste caso, talvez hábitos saudáveis de sono possam ter simplesmente levado a melhores hábitos alimentares). Isso pode ter tido um pequeno papel, mas parece que a melhor maneira de descrever nossas preocupações sobre este estudo é a falta de controle da atenção dispensada aos participantes. Neste caso, uma entrevista de uma hora, uma sessão de aconselhamento e um plano de tratamento mutuamente acordado está sendo comparada a nenhuma intervenção. Um melhor comparador para uma melhor higiene do sono poderia ter sido uma sessão de uma hora dedicada a exercícios, ou talvez mudanças alimentares. Sem isso, esses resultados são apenas um grande “adiar alarme”.

Para mais informações veja o tópico Obesidade em Adultos na DynaMed.

Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed

Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MS, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Carina Brown, MD, professora assistente na residência de Medicina da Família da Cone Health; Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.