“Please don´t take my sunshine away”: vitamina D ainda não funciona para a prevenção primária de fraturas

MBE em Foco - Volume 8, Issue 15

Referência: N Engl J Med. 2022 Jul 28;387(4):299-309

Alguém nos perguntou recentemente: "você é do tipo de médico que prescreve vitamina D ou banho de sol?". Já há algum tempo a suplementação de vitamina D tem estado onipresente tanto entre médicos quanto entre a população leiga. Mas por que isso? Nenhuma evidência forte até o momento apoiou qualquer melhora em desfechos clínicos pela suplementação de vitamina D para a prevenção primária de fraturas ou quedas. Ou para a prevenção de cânceres. Ou de eventos cardiovasculares. O uso continuado da vitamina D apesar da falta de evidências para fazê-lo representa a desconexão definitiva entre o que achamos que deve acontecer com base na biofarmacologia e o que acontece nos ensaios clínicos. Os dados dizem uma coisa e, ainda assim, continuamos fazendo outra.

Uma análise recente no New England Journal of Medicine (NEJM) deu uma segunda olhada sobre os dados coletados como parte do grande ensaio VITAL, perguntando se 2000 UI ou mais de vitamina D diariamente resultaria em um menor risco de fratura que o placebo em uma população adulta sem qualquer risco particular de osteoporose. Não houve ameaças importantes à validade no ensaio original ou nesta análise acessória. Com poder adequado para detectar uma diferença, este estudo não encontrou nenhuma. A suplementação de vitamina D não afetou o desfecho primário de um primeiro incidente em geral, fratura não vertebral ou fratura de quadril, ou o desfecho secundário que, essencialmente, incluiu todas as fraturas ocorridas nos cinco anos de acompanhamento à exceção das traumáticas ou patológicas. Uma análise de sensibilidade que levou em conta o nível basal de vitamina D também não encontrou nenhum benefício da vitamina D em relação ao placebo.

O que mais é necessário para pararmos de recomendar a suplementação de vitamina D para a prevenção primária de fraturas? Mudar é difícil, mas essa análise secundária de um estudo anterior foi publicada no NEJM por uma razão: ela deveria estimular mudanças na prática.

Mensagem clínica para levar para casa: pare de recomendar vitamina D para a prevenção primária à população geral.

Pílula da MBE: uma análise secundária de um grande ensaio pode fornecer informações extras, mas os resultados não terão o mesmo nível de certeza que a análise pré-especificada.

Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed

Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, médica de Família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.