Referência: JAMA Intern Med. 2020 May 26
Os programas de saúde e bem-estar no local de trabalho têm se tornado cada vez mais populares nos EUA, com a implementação de testes de rastreamento, educação sobre a saúde, espaços para sonecas durante o dia, mesas de ping-pong e outras atividades. Os programas de bem-estar no trabalho variam com relação à natureza das intervenções, e os estudos não demonstraram melhoras em desfechos clínicos e foram limitados por períodos curtos de seguimento ou por desenhos observacionais (Song et al. 2019, Osilla et al. 2012).
Pesquisadores conduziram um ensaio randomizado durante um período de dois anos entre funcionários de uma universidade para determinar o impacto de um programa de bem-estar no trabalho sobre os benefícios e crenças relacionadas à saúde, os seus dados biométricos e sua utilização de serviços de saúde. Funcionários aptos a receberem esses benefícios que se voluntariaram para o estudo foram randomizados a uma proporção 2:1 para a intervenção de bem-estar ou um grupo de controle. Os do grupo da intervenção foram submetidos a uma triagem biométrica e avaliação de risco basais, e foram habilitados a participarem de duas atividades de bem-estar por ano em troca de um incentivo financeiro. Os do grupo de controle foram submetidos somente à triagem biométrica, a qual incluiu aferição do peso, da pressão arterial, dos niveis lipidicos e do controle glicêmico a um e a dois anos. Além disso, foi perguntado aos participantes qual era a percepção que tinham de sua saúde, o que incluiu auto relatos dos dados biométricos, a auto classificação quanto à probabilidade de desenvolverem uma doença clínica e auto relatos dos comportamentos relacionados à saúde. Dos mais de 12 mil funcionários elegíveis, 40% concordaram em participar do ensaio (3300 randomizados para a intervenção e 1534 para o controle). Os participantes tiveram uma idade mediana de 43,9 anos, e a maioria foi do sexo feminino (57,3%) e se identificou como branca (83,7%). A hipertensão e a dislipidemia foram as condições clínicas mais comumente relatadas (13,7% e 15,8%, respectivamente). As taxas de completude do rastreamento biométrico a um ano foram 43% no grupo da intervenção e 39% no grupo de controle, caindo para 36% em ambos os grupos no ano 2. Dentre os que tiveram seus dados de desfechos disponíveis (1739 dos 4834), não houve diferenças entre os grupos com relação aos componentes individuais de percepção ou dos comportamentos relacionados à saúde. A dois anos, os participantes no grupo da intervenção tiveram índices de massa corporal (efeito estimado de -0,40, IC de 95%: -1,11 a 0,31) e outros desfechos biométrico similares. Às análises de subgrupos, os participantes que ganhavam mais que 52.620 dólares por ano, os funcionários administrativos não docentes, os assalariados e os pagos por hora tiveram todos resultados similares aos da população como um todo.
Os trabalhadores dedicam um tempo valioso para realizar as atividades de bem-estar no trabalho, e os empregadores despendem dinheiro e energia consideráveis nesses programas. Este ensaio randomizado não encontrou benefícios significativos, mas foi prejudicado por uma amostra não representativa, altas taxas de perdas e o foco limitado sobre os desfechos relacionados à saúde. Apesar de ser possível que esses resultados não sejam generalizáveis para outras populações de trabalhadores, estes dados são consistentes com múltiplos estudos que não conseguiram demonstrar melhoras em desfechos clínicos importantes. Aparentemente seria melhor gastar tempo e dinheiro em outras abordagens à promoção da saúde.
Para mais informações veja o tópico Medicina preventiva em adultos na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Carina Brown, MD, professora assistente da residência de Medicina de Família da Cone Health. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família da faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts, Dan Randall, MD, editor adjunto para Medicina Interna da DynaMed, e Katharine DeGeorge, MD, MS, professora associada de Medicina de Família da Universidade da Virginia e editora clínica da DynaMed.