Referência: JAMA Netw Open. 2023 Abr 3;6(4):e238893
Conclusão prática: As mulheres negras têm risco significativamente maior de mortalidade por câncer de mama e provavelmente se beneficiariam de um rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos. Para as outras mulheres, os dados são menos claros.
Pílula da MBE: Ao considerar o risco "médio" de uma doença em uma população, lembre-se de que o risco em diferentes subpopulações pode variar amplamente.
As recomendações de rastreamento para o câncer de mama em mulheres de risco médio têm sido objeto de muita controvérsia ao longo dos anos. A mamografia diminui a mortalidade específica por câncer de mama para mulheres de 50 a 79 anos, e a maioria das diretrizes recomenda o rastreamento mamográfico para as mulheres de 50 a 74 anos a cada 1-2 anos. Essa parte está bem clara. Mas para as mulheres de 40 a 49 anos há muita incerteza sobre os benefícios e malefícios. Infelizmente faltam dados robustos. Como resultado, as recomendações de vários grupos de diretrizes diferem significativamente, com algumas recomendando começar a partir dos 40 anos, outras aos 50 e outras no meio termo entre elas. Todas incluem algum grau de decisão compartilhada. Em 2016, a United States Preventive Services Task Force (USPSTF) recomendou contra a realização de rastreamento de rotina para mulheres com idades entre 40 e 49 anos, mas recomendou o rastreamento a cada 2 anos se solicitado por uma paciente informada. No entanto, uma nova proposta preliminar desse grupo recomenda que todas as mulheres iniciem o rastreamento aos 40 anos. Por que essa drástica mudança?
Dados recentes sugerem que o risco de câncer de mama não é o mesmo entre vários grupos raciais e étnicos. Um artigo no JAMA Network Open examinou as taxas de câncer de mama entre 5 grupos de mulheres: mulheres brancas, mulheres negras, mulheres indígenas norte-americanas/nativas do Alasca, mulheres hispânicas e mulheres asiáticas/de ilhas do Pacífico. Enquanto a mortalidade por câncer de mama está diminuindo em geral, para a faixa etária de 40 a 49 anos a mortalidade anual foi de 27 por 100.000 para mulheres negras, 15 para mulheres brancas e cerca de 11 para os outros 3 grupos mencionados acima. Especificamente, uma mulher negra de 42 anos tem a mesma chance de morrer de câncer de mama nos 10 anos seguintes que uma mulher branca de 51 anos, uma mulher indígena norte-americana/nativa do Alasca ou hispânica de 57 anos ou uma mulher asiática ou das ilhas do Pacífico de 61 anos. Esperar até os 50 anos para iniciar o rastreamento mamográfico nas mulheres negras pode ser parte da razão pela qual as mulheres negras têm maior mortalidade por câncer de mama, apesar das taxas mais altas de rastreamento. Isso indica que as mulheres negras podem se beneficiar de iniciar o rastreamento aos 40 anos.
Logo após a publicação do artigo do JAMA, a USPSTF divulgou a prévia da atualização das suas diretrizes de rastreamento para o câncer de mama (a qual provavelmente não foi informada pelo artigo do JAMA). Se essa prévia não sofrer alterações significativas, eles emitirão uma recomendação B para o rastreamento bianual de todas as mulheres de 40 a 74 anos. A recomendação B significa uma certeza elevada de benefício líquido moderado ou uma certeza moderada de benefício líquido moderado a substancial. Uma das coisas frequentemente ignoradas nos debates sobre o rastreamento do câncer são os danos associados a ele. Os resultados falsos-positivos e o sobrediagnóstico são duas desvantagens óbvias para o aumento dos rastreamentos (o sobrediagnóstico se refere aos cânceres que são diagnosticados, mas que nunca teriam se tornado clinicamente evidentes se o rastreamento não tivesse sido feito). Algumas estimativas para a taxa de sobrediagnósticos pelo rastreamento mamográfico chegam a 15%(!). É evidente que esta é uma área para decisões continuamente compartilhadas. Embora possa fazer sentido começar o rastreamento aos 40 anos para as mulheres com risco aumentado e pareça que as mulheres negras devem ser consideradas em maior risco, ainda não se sabe se isso se aplica a todas as mulheres.
Para mais informações veja o tópico Fatores de risco para câncer de mama na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família da faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts. Editado por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; Elham Razmpoosh, PhD, pesquisadora em pós-doutorado na Universidade McMaster; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.