Referência: JAMA Oncol 2015 Jul 23 early online (evidência de nível 2 [médio])
Determinar o melhor tratamento para pacientes com câncer em estágio terminal é difícil, com pouca evidência clínica para orientar as tomadas de decisões. A quimioterapia tem sido utilizada para fins paliativos em pacientes com doença metastática que tiveram progressão da doença em regimes quimioterápicos anteriores, mas há variações significativas em seus usos no final da vida (Ann Oncol 2015 Jul;26(7):1440). Embora se tenha demonstrado que o início precoce dos cuidados paliativos melhora a sobrevida e a qualidade de vida em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (N Engl J Med 2010 Aug 19;363(8):733), a quimioterapia paliativa no último mês de vida tem sido associada a aumentos dos riscos de tratamento médico intensivo e morte em uma unidade de terapia intensiva (Ann Oncol 2011 Nov;22(11):2375, BMJ 2014 Mar 4;348:g1219). No entanto, permanecem muitas incertezas com relação aos resultados sobre a qualidade de vida em pacientes que recebem quimioterapia perto do final da vida.
Um recente estudo prospectivo de coorte acompanhou 621 pacientes com câncer metastático progressivo em estágio terminal após pelo menos um regime de quimioterapia. Todos os pacientes tinham uma expectativa de vida ≤ 6 meses com base nas estimativas do médico. Os cânceres mais comuns neste estudo foram de pulmão, mama, cólon, pâncreas e outros tipos de câncer gastrointestinal, que juntos representaram aproximadamente 70% de todos os cânceres. Durante o estudo, 384 pacientes morreram. A análise incluiu 312 pacientes (81,3%) que não estavam participando de ensaios clínicos mas tinham dados completos. Destes 312 pacientes, 50,6% receberam quimioterapia paliativa no início do estudo e a distribuição das pontuações de funcionalidade (PS) de acordo com o escore do grupo ECOG incluíram 39,1% com bom desempenho (PS 1), 37,2% com desempenho moderado (PS 2) e 18,6% com mau desempenho (PS 3). Os pacientes que receberam quimioterapia foram significativamente mais jovens (p <0,001) e apresentaram melhor desempenho basal (p <0,001). A qualidade de vida durante a última semana de cada paciente foi avaliada através entrevistas realizadas com o cuidador mais informado sobre os cuidados do paciente a uma mediana de 2,4 semanas após o falecimento. Comparando o uso de quimioterapia com o não-uso, o uso foi associado a uma redução na qualidade de vida proximamente à morte para pacientes com boa funcionalidade basal (odds ratio 0,35; IC de 95%: 0,17-0,75). No entanto, não houve associação entre o uso de quimioterapia e a qualidade de vida proximamente à morte para pacientes com estado funcional moderado ou baixo. Também não houve associação significativa entre o uso de quimioterapia e a mortalidade.
Para os pacientes com baixo desempenho de acordo com a escala ECOG, este estudo não encontrou associação entre quimioterapia paliativa e qualidade de vida, concordando com estudos anteriores. Surpreendentemente, para os pacientes com bom desempenho, a quimioterapia paliativa foi associada com uma redução da qualidade de vida proximamente à morte. Esta é a população com maior probabilidade de receber quimioterapia paliativa e para a qual se pensa que esta intervenção pode proporcionar o maior benefício. A quimioterapia paliativa também não foi associada a melhora na sobrevida, mas o estudo foi insuficiente para detectar diferenças quanto a este desfecho. Em geral, os resultados deste estudo sugerem que, para todos os pacientes com câncer em estágio terminal e uma expectativa de vida estimada em ≤ 6 meses, a quimioterapia paliativa pode impactar negativamente a qualidade de vida ou, na melhor das hipóteses, não oferecer nenhum benefício.
Para mais informações, veja o tópico Tratamento de câncer de pulmão de células não-pequenas na DynaMed.