Referência: JAMA Cardiol. 2022 Nov 1;7(11):1138-1146
Conclusão prática: Os benefícios de longo prazo do controle intensivo da pressão arterial permanecem sem comprovação.
Pílula da MBE: Tenha cuidado para não fazer suposições em suas interpretações de dados observacionais. Somente observações podem advir de dados observacionais, mas explicações não.
As organizações profissionais discordam entre si sobre as metas para o tratamento da pressão arterial. Embora existam abundantes dados observacionais que sugerem uma associação entre o controle da pressão arterial e a melhora da mortalidade, a existência de benefícios pelo controle intensivo em relação ao controle padrão não foi demonstrada por dados de ensaios além do estudo SPRINT (em português, “arrancada”), cujas generalização e validade foram questionadas com base nos métodos de medição da pressão arterial, que não foram os “do mundo real”, e nas evidências de viés de desempenho. Uma recente análise de seguimento do ensaio SPRINT publicada no JAMA Cardiology constatou que os benefícios cardiovasculares e de mortalidade por todas as causas associados a uma meta sistólica intensiva no estudo original não persistiram em longo prazo.
Com base em dados extraídos de prontuários eletrônicos os pesquisadores descobriram que, 4,5 anos após o término do estudo, a pressão arterial alcançada foi a mesma em ambos os grupos e não houve mais diferença nas mortes cardiovasculares (HR de 1,02; IC de 95%: 0,84-1,24) ou por todas as causas (HR de 1,08; IC de 95%: 0,94-1,23). Os dados analisados foram baseados apenas nas pressões registradas nos prontuários, sem qualquer informação sobre as metas de tratamento ou as terapias, e incluíram dados de pontos tanto de durante o período do próprio ensaio como do período de acompanhamento.
Os autores concluem que os benefícios cardiovasculares e de mortalidade por todas as causas do tratamento intensivo da pressão arterial não persistiram após o término do estudo SPRINT devido à perda do controle mais intensivo da pressão arterial. No entanto, não se sabe se os pacientes originalmente randomizados para o grupo das metas intensivas não foram mais tratados para esse alvo, ou se foram realmente tratados para a meta intensiva (consideradas as preferências do paciente e as novas diretrizes para pressão arterial do ACC / AHA) mas não atingiram a pressão-alvo. Esses dados podem sugerir que não há benefício na mortalidade ao se tratar uma meta de pressão arterial intensiva por alguns anos e depois relaxar, ou podem significar que não há um benefício de mortalidade com o tratamento continuado para uma meta intensiva que não é alcançada. Ainda não sabemos se o benefício de mortalidade observado no estudo SPRINT teria persistido ao longo do tempo se as metas intensivas fossem mantidas.
A maior conclusão desta análise de seguimento do ensaio SPRINT pode ser que os benefícios do controle agressivo da pressão arterial alcançáveis apenas em um ensaio clínico podem não se traduzir para o tratamento da hipertensão arterial no mundo real.
Para mais informações consulte o tópico Seleção e manejo da medicação para a hipertensão arterial na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical, e Katharine DeGeorge, MD, MS, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor-adjunto da DynaMed; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.