Referência: Lancet. 2021 Dec 4;398(10316):2093-2100
Israel começou a aplicar terceiras doses da vacina de mRNA contra o SARS-CoV-2 BNT162b2, da Pfizer, no início do verão deste ano no hemisfério norte em resposta ao aumento relatado da infectividade da variante Delta. Surpreendentemente, quase 50% dos idosos elegíveis receberam vacinas de reforço de terceira dose em duas semanas, permitindo que o sistema de saúde expandisse rapidamente o uso de reforços para populações mais jovens e menos vulneráveis. Um artigo da Lancet foi publicado no mês passado descrevendo essa experiência da saúde pública israelense em tempo real.
Os pesquisadores tiveram acesso a dados de 1.158.239 pessoas elegíveis para uma terceira dose da vacina, bem como dados de desfechos sobre internação, diagnóstico de COVID-19 grave ou morte pelo vírus. A análise dos dados excluiu pessoas com COVID anterior, profissionais de saúde e aquelas que estavam confinadas em casa ou viviam em estabelecimentos residenciais, mas incluiu pessoas com alto risco de doença grave. Cada uma das pessoas que recebeu a terceira dose (reforço) foi pareada sete dias após o reforço com outra pessoa elegível para a terceira dose com idade, sexo, comorbidades, tempo desde a conclusão da série original de vacinas e número de testes para COVID nos 9 meses anteriores semelhantes. Os controles haviam recebido duas doses da vacina.
Os resultados mostraram que três doses de vacina demonstraram maior efetividade que duas para os três desfechos primários: internação por COVID (93%; 231 eventos para 2 doses versus 29 eventos para 3 doses), doença grave relacionada a COVID (92%; 157 vs 17 eventos) e óbito por COVID (81%; 44 vs 7 eventos). Esta efetividade abrange todas as idades estudadas, e observacionalmente pareceu que, à medida que as vacinas de reforço foram sendo dadas a pessoas cada vez mais jovens, a incidência populacional de infecções de COVID-19 diminuiu entre esses subgrupos.
Esses números são muito impressionantes, mas gostaríamos de focar a discussão em um aspecto do desenho do estudo. Estudos de caso-controle pareados dependem fortemente de quem é escolhido como critério correspondente. Neste caso, o tempo desde a segunda dose da vacina e o número de exames anteriores foram escolhidos como um proxy razoável para compensar as variações no comportamento de busca por serviços de saúde e a preocupação com a doença. Esse ajuste pressupõe que a preocupação com a doença seja um fator primordial para o desfecho nas doenças preveníveis por vacinas.
É isso mesmo? Que os autores tenham optado por olhar especificamente para aqueles que adoeceram gravemente ou morreram de COVID é indiscutivelmente o conjunto mais importante de desfechos, embora o desfecho de infecções reais seja um segundo bastante próximo. Mas a absorção e a eficácia das vacinas podem estar associadas a uma grande variedade de outros determinantes confundidores, que vão desde o acesso a informações de saúde atuais e a capacidade de navegar por inscrições on-line até a capacidade de se conseguir um tempo de ausência do trabalho para a vacinação e a crença em tratamentos não convencionais que podem atrasar a apresentação da doença. Esses fatores poderiam criar diferenças entre as duas coortes que afetam os desfechos independentemente do status vacinal. Este estudo nos informa sobre o impacto potencial de uma terceira dose. No entanto, como em todos os estudos de caso-controle, não importa o quão bem os casos sejam pareados, os dois grupos não são prognosticamente equivalentes ao início e, portanto, nenhuma relação causal pode ser assegurada. Pode haver algo inerentemente diferente nas pessoas que receberam a terceira dose que não pode ser controlado sem randomização. Dito isso, este estudo observacional bem executado fornece evidências impressionantes de que uma terceira dose fornece proteção adicional contra desfechos graves da COVID.
Para obter mais informações, consulte o tópico COVID-19 (Novo Coronavírus) na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MS, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Carina Brown, MD, professora assistente na residência em Medicina da Família da Cone Health; Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior da DynaMed; e Christine Fessenden, assistente de operações editoriais da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MS, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.