Regra de predição clínica ajuda a descartar trauma cefálico por maus tratos em crianças <3 anos de idade internadas em UTI pediátrica com lesão cefálica aguda

MBE em Foco - Volume 2, Issue 11

Reference: Pediatrics 2014 Dec;134(6):e1537 (evidência de nível 1 [provavelmente confiável])

Quando uma criança é levada a um hospital com traumatismo cefálico agudo, os médicos devem considerar cuidadosamente a possibilidade de maus tratos. Deixar de diagnosticar um abuso pode ter consequências trágicas, uma vez que a volta da criança à situação de maus tratos pode leva-la a sofrer abusos adicionais ou até mesmo à morte. Infelizmente, vários estudos têm demonstrado que o discernimento médico sobre quando rastrear os casos de maus tratos infantis é significativamente enviesado, especialmente em crianças que apresentam traumatismo craniano agudo (Pediatrics 2006 Mar;117(3):722, Clin Orthop Relat Res 2007 Aug;461:219, Pediatrics 2010 Sep;126(3):408). Para ajudar os médicos a decidir quando investigar mau tratos, a Pediatric Brain Injury Research Network desenvolveu uma regra de predição clínica para trauma cefálico por maus tratos em crianças (Pediatr Crit Care Med 2013 Feb;14(2):210) que foi recentemente validada em 291 crianças

<3 anos de idade admitidas em uma de 14 unidades de terapia intensiva pediátricas com traumas cefálicos agudos.

O estudo excluiu todas as crianças envolvidas em acidentes de carro, bem como aquelas com evidências radiológicas de malformação, doença, infecção ou hipóxia/isquemia cerebrais pré-existentes. Os traumatismos cranianos por maus tratos foram diagnosticados, por critérios pré-definidos, em 43% das crianças. A regra de predição clínica para traumatismo craniano por maus tratos é composta por 4 variáveis que podem ser avaliadas durante ou proximamente ao tempo de internação na UTI, incluindo: i) comprometimento respiratório clinicamente significativo no local do trauma, durante o transporte, no departamento de emergência ou antes da admissão; ii) contusões envolvendo orelhas, pescoço ou tronco da criança; iii) hemorragia ou coleção subdural bilateral ou inter-hemisférica; iv) e fratura de crânio que não seja isolada, linear, parietal, unilateral e não diastásica. A presença de um ou mais fatores teve alta sensibilidade, mas baixa especificidade, para a predição de traumatismo craniano por maus tratos, com um valor preditivo positivo de 55% (IC de 95%: 48%-62%) e valor preditivo negativo de 93% (IC de 95%: 85%-98%).

O desempenho da regra de predição clínica para traumatismo craniano por maus tratos nesta coorte de validação se equiparou ou excedeu o seu desempenho no estudo original (

Pediatr Crit Care Med 2013 Feb;14(2):210) e sugere que esta regra de previsão pode ajudar a excluir os maus tratos em crianças que apresentam lesão cefálica aguda. O valor preditivo negativo não foi de 100%, no entanto, e um pequeno número de crianças que acabaram tendo diagnóstico de traumatismo craniano por maus tratos foram classificadas como de baixo risco. Além disso, tanto o estudo original de derivação quanto este estudo de validação foram realizados em crianças internadas na UTI pediátrica e o desempenho desta regra ainda não foi testado em populações não internadas em UTI. A regra de predição clínica de trauma cefálico por abuso pode ajudar a aumentar a confiança do médico para descartar maus tratos, mas uma baixa pontuação de risco não deve impedir uma investigação mais aprofundada se houver suspeita de maus tratos.

Para mais informações, veja os tópicos Lesão cerebral traumática moderada a grave e Concussão e lesão cerebral traumática leve no DynaMed.