Repetindo: vacina tríplice viral não aumenta o risco de autismo, mesmo entre crianças de alto risco

MBE em foco - Volume 6, Issue 10

Referência: Ann Intern Med 2019 Mar 5

Os pais que escolhem não vacinar seus filhos com a altamente efetiva vacina tríplice viral provocam uma ampla variedade de respostas dos profissionais da saúde, variando de uma discreta frustração à raiva explícita. A vacina previne até 95% dos casos clínicos de sarampo, mas mesmo assim as taxas de vacinação declinaram acentuadamente desde o artigo fraudulento publicado no Lancet em 1998 que associou a vacina ao desenvolvimento de autismo. Surtos de sarampo continuam a ocorrer ao redor do mundo, resultando em mais de 100 mil mortes a cada ano e milhões de dólares gastos para tratar e prevenir a disseminação da doença. Existem numerosos estudos demonstrando reiteradamente que não há associação entre a vacinação com a tríplice viral e o autismo. Agora nós temos um outro estudo que os profissionais podem usar para envolver os pais em uma conversa efetiva sobre a vacinação.

Este estudo de coorte dinamarquês examinou a associação entre a vacinação com tríplice viral e o risco de desenvolvimento de transtorno do espectro autista entre mais de 600.000 crianças de 1999 a 2010 a partir do robusto sistema de registros nacional, ligado tanto a bases de dados de vacinação quanto de doenças. As crianças com diagnóstico de autismo antes de um ano de idade e aquelas com doenças fortemente ligadas ao autismo (como a síndrome de DiGeorge) foram excluídas da análise. Os autores usaram os lados dos registros para gerar um score de risco para autismo que incluiu idades materna e paterna avançadas, tipo de parto, APGAR a 5 minutos, nascimento pré-termo, perímetro cefálico, peso ao nascer e tabagismo na gestação. Mais de 95% de todas as crianças receberam a vacina tríplice viral, restando 31.619 não vacinadas. Ao longo do mesmo período, 6517 crianças foram diagnosticadas com transtorno do espectro autista conforme definido pelo Registro Psiquiátrico Central Dinamarquês, o qual contém diagnósticos atribuídos por psiquiatras infantis. A análise por regressão foi usada para se produzirem razões de dano de acordo com os status vacinais e ajustadas por ano de nascimento, sexo, outras vacinas recebidas, história familiar de autismo e o escore de risco. A razão de dano ajustada para o desenvolvimento de autismo entre o grupo vacinado com tríplice viral em comparação ao grupo não vacinado foi 0,93 (IC de 95%: 0,85-1,02). Além disso, o recebimento da vacina não aumentou o risco de autismo entre os grupos de alto risco, incluindo as crianças com histórico familiar de autismo ou uma alta pontuação no score de risco.

Esta grande base de dados do mundo real demonstra que, mesmo entre crianças que têm um risco mais alto para transtorno do espectro autista, a vacinação com a tríplice viral não aumenta o risco de desenvolvimento de autismo. Para os pais que estejam hesitantes sobre vacinarem ou não seus filhos, trazer dados frescos para mesa e discutir os fatos com eles pode ajudar a modular as emoções na conversa. Este estudo se adiciona aos robustos dados que demonstram que a vacina tríplice viral não está associada ao autismo. Enquanto os cientistas e pesquisadores podem estar se perguntando o porquê de precisarmos de mais um estudo para desfazer o mito que liga a vacina tríplice viral ao autismo, para alguns pais ver novos dados pode ajudá-los a chegar um pouco mais perto de enxergar a verdade.

Para mais informações, veja os tópicos Transtornos do espectro autista e Imunizações em crianças e adolescentes na DynaMed