Referência: BMJ. 2024 Fev 14:384:e075847
Conclusão prática: O exercício é uma opção de tratamento eficaz para a depressão, e deveria ser rotineiramente prescrito.
Pérola da MBE: Em comparação com a meta-análise pareada tradicional, uma meta-análise em rede compara múltiplas intervenções de maneira simultânea e pode estimar uma classificação e uma hierarquia para as intervenções.
Dentre as opções de tratamento para a depressão, os exercícios físicos se destacam como uma intervenção potente, porém muitas vezes subutilizada. Embora os antidepressivos e a psicoterapia continuem sendo as estratégias primárias, evidências sugerem que a atividade física pode desempenhar um papel fundamental no alívio dos sintomas da depressão. Mas como realmente prescrever exercícios para a depressão? Uma revisão sistemática e meta-análise em rede recente publicada no BMJ procurou identificar o tipo, a duração e a intensidade ideais dos exercícios para a depressão e como eles se comparam à terapia tradicional.
Foram incluídos ECRs de exercícios para a depressão. Os exercícios foram definidos como "movimentos corporais planejados, estruturados e repetitivos feitos para melhorar ou manter um ou mais componentes de aptidão física", e incluíram, mas não se limitaram a, caminhada, corrida, ciclismo, dança, treinamento de força, ioga, tai-chi e qi-gong. Foram incluídos estudos com múltiplos braços de exercícios, outras intervenções, como medicação e psicoterapia, bem como controles ativos e em listas de espera. Foram coletados dados referentes ao tipo, frequência, intensidade, tempo, aceitabilidade e autonomia (escolha) da prescrição. O desfecho primário foi a mudança média padronizada em relação à pontuação basal em escores de depressão, com os tamanhos dos efeitos relatados.
Duzentos e dezoito estudos, com 495 braços e 14.170 participantes, foram incluídos. A dança levou às maiores reduções na depressão dentre todos os tratamentos em comparação com os controles ativos. Depois dela os mais eficazes, em ordem de efeito, foram a caminhada ou corrida, yoga, treinamentos de força, exercícios aeróbicos mistos e tai-chi ou qi-gong. Reduções moderadas na depressão também foram observadas quando o exercício foi combinado com um ISRS ou a psicoterapia. Por si só, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) demonstrou um tamanho de efeito equivalente ao do yoga. Os ISRSs, por si só, foram o método menos efetivo estudado. Os treinamentos de força e o yoga foram aparentemente as formas de exercício mais aceitáveis (tiveram a menor taxa de desistências). Em geral, os exercícios de maior intensidade foram associados a desfechos mais fortes, e benefícios semelhantes foram observados a doses semanais, doenças coexistentes e gravidades basais variadas. De maneira surpreendente, uma maior autonomia do paciente na definição do esquema de exercícios foi associada a menos benefícios.
Então vá em frente, diga aos seus pacientes deprimidos para colocarem sua música favorita e dançá-la, ou para entrarem em um curso de yoga, começarem a levantar pesos, ou simplesmente saírem para uma caminhada ou uma corrida. Torne sua recomendação específica e não tenha medo de registrá-la. No geral, achamos que esta é uma revisão sistemática e meta-análise em rede bem executada. Os autores seguiram as diretrizes PRISMA e a credibilidade foi avaliada pela CINeMA. A maioria dos estudos não foi mascarada, uma grande limitação, mas reconhecemos que o cegamento (pelo menos dos participantes) simplesmente não é factível para exercícios. Este estudo é um bom lembrete de que os ISRSs têm benefícios limitados, e de que os profissionais devem levar em conta o estilo de vida ao avaliarem e tratarem a depressão. Embora iniciar um regime de exercícios possa exigir alguma motivação (talvez seja para isso que os ISRSs servem!), enfatizar seus benefícios nunca é exagero.
Para mais informações consulte o tópico Transtorno depressivo maior (TDM) na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical. Editado por Alan Ehrlich, MD, FAAFP, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora-adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, MPH, FACP, editor adjunto da DynaMed; Vincent Lemaitre, PhD, editor médico da DynaMed; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada sênior da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.