Segure a faca - os antibióticos são uma opção razoável para a apendicite em crianças?

MBE em foco - Volume 6, Issue 14

Referência: Ann Surg. 2020 Jun;271(6):1030-1035

Até 8% das crianças que vão a serviços de emergência com dor abdominal aguda têm apendicite. A apendicectomia é considerada o tratamento padrão. Tem havido um interesse recente em se tratar inicialmente alguns pacientes selecionados que têm apendicite aguda com antibióticos, para postergar ou até mesmo evitar a cirurgia. Em novembro um grupo italiano publicou uma meta-análise de 14 estudos que envolveram mais de 1.200 crianças demonstrando que o tratamento não operatório da apendicite aguda resultou em melhores desfechos em curto prazo para os pacientes com apendicites complicadas (isto é, com abcesso ou flegmão visível em exames de imagem) contanto que não houvesse perfuração. Em janeiro, um grupo de Estocolmo estudou os desfechos em 5 anos de crianças com apendicite não perfurada - incluindo pacientes com abscessos ou flegmões, além de um apêndice inflamado somente - randomizados para serem submetidos a apendicectomia ou receberem antibióticos.

Cinquenta crianças com idades entre 5 e 15 anos e um diagnóstico radiológico (primariamente por ultrassom) de apendicite não perfurada foram randomizados para receberem antibióticos ou serem submetidas a apendicectomia. O tratamento antibiótico consistiu de pelo menos 24 horas de meropeném e metronidazol intravenosos seguidos de 10 dias de antibióticos com ciprofloxacino e metronidazol orais. Todas foram seguidos por pelo menos cinco anos após a randomização. Das 24 crianças alocadas ao braço dos antibióticos, duas necessitaram de cirurgia dentro de um mês, sendo uma por apendicite perfurada e outra por dor abdominal persistente que na cirurgia revelou um apêndice não inflamado. Aos cinco anos de acompanhamento, nove outras crianças do grupo dos antibióticos foram submetidas a apendicectomias em virtude de dor abdominal ou por solicitação de seus pais. Em outras palavras, 11 de 24 crianças inicialmente diagnosticadas com apendicite não perfurada e tratadas com antibióticos acabaram por ser submetidas a apendicectomias, mas apenas quatro dessas crianças tinham apendicite no momento da cirugia. Dos pacientes alocados ao grupo da apendicectomia, nenhum teve problemas relacionados à sua cirurgia e, dos pacientes inicialmente alocados ao tratamento não operatório, nenhum teve obstrução intestinal, abscesso “profundo” ou qualquer outra consequência séria decorrente da postergação da cirurgia.

Este acompanhamento de longo prazo de um pequeno ensaio randomizado controlado oferece evidência adicional de que o tratamento antibiótico inicial da apendicite não perfurada é uma opção razoável nas crianças. Isso corrobora o paradigma cada vez mais aceito de que a apendicite sem perfuração não é universalmente progressiva ou recidivante. É importante notar que os dois pacientes submetidos à apendicectomia e um dos dois que haviam recebido inicialmente tratamento não operatório seguido de apendicectomia tinham perfuração que não foi diagnosticada radiograficamente mas foi detectada cirurgicamente. Não é possível dizer se isso representa um diagnóstico não detectado radiologicamente ou uma progressão entre a realização do exame e a cirurgia. No entanto, isso sugere que a estratégia de uso de antibióticos isoladamente deve ser limitada aos pacientes que possam ser submetidos a monitoramento estrito no curto prazo. A metanalise e esse estudo fornecem dados adicionais para ajudar nossos pacientes a fazerem escolhas informadas sobre o tratamento cirúrgico versus o não cirúrgico para a apendicite aguda.

Para mais informações veja o tópico Appendicite em crianças na DynaMed.

Equipe editorial do DynaMed MBE em Foco

Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, editor adjunto para Medicina Interna da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts, e Katharine DeGeorge, MD, MS, professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virginia e editora clínica da DynaMed.