Referência: Ann Intern Med. 2021 Jul 6
Algumas doenças (como a SARS e a AIDS) são descritas pela primeira vez em séries de casos e relatos de coortes como síndromes, geralmente definidas como grupos heterogêneos de sinais ou sintomas com causa desconhecida. Em julho de 2020, relatos iniciais indicaram que a COVID-19 por vezes estava associada a sintomas prolongados, e pesquisas subsequentes confirmaram um maior risco de morte e de morbidade significativa persistindo muito tempo após uma internação por COVID. Mesmo indivíduos jovens sem comorbidades vêm sendo relatados como acometidos por sintomas de longo prazo que afetam a qualidade de vida. Até agora, o NIH não estabeleceu em uma definição firme o que é mais frequentemente chamado de síndrome de COVID-19 pós-aguda. Este mês, a Annals of Internal Medicine publicou outro relato inicial sobre o fenômeno às vezes descrito como “COVID longa”, desta vez em pacientes que não necessitaram de internação hospitalar.
O grupo CoviCare, da Suíça, analisou 410 pessoas sintomáticas diagnosticadas com COVID na primavera de 2020 que não necessitaram de internação. Elas foram questionadas, online ou por telefone, acerca de sintomas ao diagnóstico, durante a fase inicial da doença, a um mês, e 7 a 9 meses após o diagnóstico inicial. Cerca de um terço foram perdidas durante o seguimento. As perguntas ao diagnóstico cobriram sintomas como febre e erupção cutânea, mas os questionários de acompanhamento também perguntaram sobre problemas que foram desde insônia até queda de cabelos e incluíram avaliações funcionais gerais
Cerca de 40% dos pacientes apresentaram sintomas persistentes, mas geralmente leves e não incapacitantes, aos 7 a 9 meses. Os sintomas mais comuns foram fadiga e disfunções do olfato/paladar, embora dispneia e distúrbios neuropsiquiátricos (perda de memória, insônia ou dificuldades de concentração) tenham afetado um pequeno grupo de pessoas (cerca de 5% cada). As taxas de sintomas graves foram baixas.
As informações desta coorte são interessantes, mas continuamos firmemente no estágio gerador de hipóteses. Embora os sintomas descritos como síndrome de longo prazo possam acabar sendo considerados um fenômeno distinto, eles também podem fazer parte da recuperação da COVID. Também é possível que a onipresença da pandemia vigente, com nosso estresse social coletivo, seja um fator de confusão, já que as pessoas com COVID não foram comparadas a controles não infectados. Não sabemos se um em cada três inicialmente entrevistados que não participaram do seguimento eram semelhantes ou diferentes dos respondentes. Este estudo analisou pessoas dentro de uma faixa específica de gravidade inicial da doença, e por isso não podemos generalizar os achados para pacientes que permaneceram assintomáticos ou foram hospitalizados. Os dados são úteis, mas uma incerteza significativa persiste. Nós já estivemos antes na posição de ter apenas dados de coortes e séries de casos - no início desta pandemia e em outras epidemias. Lembram como foi frustrante há 20 meses, quando só tínhamos estudos de coorte e séries de casos descrevendo algumas pessoas que tiveram contato com um mercado molhado apresentando síndrome respiratória aguda grave? Ainda temos um longo caminho no entendimento dos efeitos em longo prazo da COVID.
Para obter mais informações, consulte o tópico COVID-19 (Novo Coronavírus) na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da Dynamed
Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Carina Brown, MD, professora assistente na residência em Medicina de Família da Cone Health; Katharine DeGeorge, MD, MS, professora associada de medicina de família na Universidade da Virgínia e editora clínica da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical; Tanya Tupper, RT(N), CNMT, PET, autora médica Sênior da DynaMed, Vincent Lemaitre, PhD, autor médica da DynaMed e Christine Fessenden, assistente de operações editoriais da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MS, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.