Referência: JAMA Intern Med 2015 Jul 6 early online (evidência de nível 2 [médio])
A mamografia de rotina para o rastreamento do câncer de mama é recomendada desde os 40 anos de idade para as mulheres com risco médio dessa doença (CA Cancer J Clin 2012 Mar-Apr;62(2):129, USPSTF Screening for Breast Cancer 2009 Nov). À medida em que aumentam as taxas de mamografias, no entanto, o mesmo acontece com o potencial de excessos de diagnósticos e tratamentos. O sobrediagnóstico ocorre quando o rastreamento leva ao diagnóstico de um câncer que nunca teria afetado a saúde ou a longevidade da paciente. A mamografia tem sido associada a aumentos na detecção de cânceres de mama em fases iniciais, mas a apenas pequenas reduções nas incidências de cânceres de mama em fases tardias (N Engl J Med 2012 Nov 22;367(21):1998). Além disso, os resultados sobre os benefícios da mamografia para a prevenção da mortalidade associada ao câncer de mama têm sido mistos e a extensão dos excessos de diagnósticos ainda não está clara (Cochrane Database Syst Rev 2013 Jun 4;(6):CD001877, BMJ 2014 Feb 11;348:g366). Um recente estudo retrospectivo de coorte avaliou 16.120.349 mulheres ≥ 40 anos de idade submetidas a mamografias no ano de 2000 em um dos 547 condados norte-americanos que alimentam a base de dados SEER (Surveillance, Epidemiology, and End Results).
Das > 16 milhões de mulheres rastreadas, 55.809 (0,35%) foram diagnosticadas com câncer de mama e os dados de 10 anos de seguimento estiveram disponíveis para 95,3% delas. A taxa de rastreamento, definida como a percentagem de mulheres ≥ 40 anos de idade submetidas a mamografia nos últimos 2 anos, foi determinada em cada condado para examinar os efeitos de diferentes taxas de rastreamento sobre o diagnóstico e a mortalidade por câncer de mama. A taxa média de rastreamento foi de 62,2%, variando de 39,1% a 77,8%. À análise baseada nos condados, cada aumento de 10% na taxa de rastreamento foi associado a um aumento na incidência de câncer de mama (risco relativo [RR] 1,16, IC de 95% CI 1,13-1,19) sem qualquer diminuição na mortalidade em 10 anos por câncer da mama. Em uma análise adicional do tamanho do tumor encontrado, cada aumento de 10% no rastreamento foi associado a um aumento da incidência de cânceres pequenos (≤2 cm; RR de 1,25, IC de 95% 1,18-1,32), bem como um menor aumento na incidência de cânceres grandes (> 2 cm; RR 1,07, IC de 95% 1,02-1,12). A incidência de cânceres de mama de estádios 0-II também foi aumentada com o rastreamento, mas não houve diminuição nas incidências de cânceres de mama em estádios III-IV.
O objetivo do rastreamento do câncer de mama é identificar a doença em uma fase mais precoce, identificando lesões assintomáticas. É de se esperar que taxas mais elevadas de mamografias aumentem os diagnósticos de pequenos tumores da mama e diminuam a incidência de tumores maiores e em estádios posteriores. Seria de se esperar que identificar e tratar tumores mais precocemente resultasse em uma diminuição da mortalidade específica por câncer de mama. Este estudo de coorte retrospectivo, de fato, revelou que taxas mais elevadas de mamografias foram associadas ao esperado aumento nos diagnósticos de tumores pequenos de mama. No entanto, contrariamente às expectativas, também identificou um aumento na incidência de tumores grandes com a elevação das taxas de rastreamento. Além disso, enquanto as taxas de rastreamento mais elevadas aumentaram a incidência de cânceres em estádios precoces (0-II), elas não diminuíram a incidência de cânceres em estádios avançados (III-IV). A falta de alteração nas incidências de cânceres em estádios avançados pode, em parte, explicar por que o rastreamento não diminuiu a mortalidade específica por câncer de mama em 10 anos. Em vez da prevenção de mortes específicas por câncer de mama, este grande estudo sugere que aumentos nas taxas de mamografias podem estar levando a um excesso de diagnósticos de pequenos tumores indolentes. Identificar esses tumores pode levar angústia e preocupação para as pacientes, além de tratamentos potencialmente desnecessários. Por exemplo, como foi observado no MBE em Foco passado, o tratamento cirúrgico de mulheres com carcinoma ductal in situ de baixo grau detectado pela mamografia pode não melhorar a sobrevida em comparação com o tratamento conservador. Mais estudos são necessários para determinar um cronograma ideal para o rastreamento de rotina com mamografia e a melhor forma de acompanhar as mulheres com pequenos tumores incidentais encontrados por esse rastreamento.
Para mais informações, veja o tópico Mamografia para o rastreamento do câncer de mama na DynaMed.