Referencia: N Engl J Med 2017 Sep 7;377(10):947 (evidência de nível 2 [médio])
- Surtos de caxumba podem ocorrer em ambientes de alta densidade demográfica, mesmo entre populações que tenham tomado duas doses da vacina tríplice viral. Há alguma evidência de que uma terceira dose da tríplice viral pode ajudar a controlar esses surtos.
- Estudo de coorte retrospectivo que envolveu mais de 20 mil estudantes avaliou a eficácia de uma terceira dose da vacina tríplice viral no controle de um surto de caxumba na Universidade de Iowa em 2015-2016.
- Ter tomado três doses da vacina tríplice viral foi associado a uma taxa reduzida de ocorrência de caxumba durante o surto em comparação com ter tomado apenas duas doses (0.67% vs. 1.45%, p < 0.001).
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda a vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) entre 12 e 18 meses de idade, com uma segunda dose entre 4 e 6 anos de idade (CDC 2017). Surtos de caxumba ocasionalmente ocorrem em ambientes com alta densidade demográfica, mesmo entre populações com altas taxas de vacinação (Public Health Rep 2009, MMWR 2016 Jul, MMWR 2012 Dec). Existe alguma evidência de que uma campanha de vacinação que oferece uma terceira dose da tríplice viral pode ajudar a controlar os surtos, porém estudos adicionais são necessários (MMWR 2016 Jul, MMWR 2012 Dec, Pediatrics 2012, Pediatr Infect Dis J 2013). Um estudo de coorte retrospectivo recente avaliou a eficácia de uma terceira dose da vacina tríplice viral para controlar um surto de caxumba na Universidade de Iowa, nos EUA, entre agosto de 2015 e maio de 2016. No estudo, 20.496 estudantes com idades entre 18 e 24 anos foram avaliados através de registros universitários e dados da investigação do surto. Quase todos os alunos tinham tomado duas doses da vacina tríplice viral antes do surto, e uma terceira dose foi oferecida durante o surto, principalmente através de uma campanha de vacinação realizada em novembro. No total, 5110 estudantes (24,9%) receberam três doses da vacina tríplice viral antes do início dos sintomas (dentre os que contraíram caxumba) ou ao final do surto, e 15.206 estudantes (74,2%) receberam apenas duas doses.
Os estudantes que receberam 3 doses tiveram uma taxa mais baixa de ocorrência de caxumba durante o surto do que os que receberam duas doses (0.67% vs. 1.45%, p < 0.001). Devido ao fato de o tempo entre uma terceira dose da vacina e a resposta imune não ser claro, análises multivariadas foram conduzidas para se avaliar o risco ocorrência de caxumba 7, 14 21 e 28 dias após a terceira dose. O benefício de uma terceira dose foi aparente para todos os períodos, com uma razão de dano de 0,4 (IC de 95%: 0.26-0.62) para o risco a 7 ou mais dias após a terceira dose e resultados consistentes com esse para os outros números de dias. Em uma análise dos estudantes que tinham recebido duas ou três doses, um intervalo maior desde a segunda dose foi associado com uma taxa maior de ocorrência de caxumba: 1,76% entre os estudantes que tinham tomado a segunda dose entre 16 e 23 anos antes, 1,13% para 13 a 15 anos, 0,39% para 3 a 12 anos e 0,16% para os últimos 2 anos (p < 0.001 para a tendência). O aumento do risco proporcionalmente ao aumento do intervalo desde a segunda dose da tríplice viral também foi aparente em uma análise multivariada dos estudantes que tinham recebido as três doses. Eventos adversos não foram relatados.
Este estudo de coorte retrospectivo fornece evidência adicional de que uma terceira dose da vacina tríplice viral pode ajudar a reduzir o risco de caxumba durante um surto em um ambiente de alta densidade demográfica com proporções significativas de indivíduos vacinados. Ele também fornece evidências de que o aumento do tempo após a segunda dose da tríplice viral pode estar associado a um aumento do risco de ocorrência de caxumba durante um surto. Os autores chamam atenção para fatores além a terceira dose da vacina que provavelmente também contribuíram para a redução do risco, incluindo a implementação de protocolo para detecção de casos, os testes rápidos, o isolamento dos casos, o aumento da conscientização dos alunos e o recebimento recente da segunda dose da vacina (há exigência de comprovação de recebimento das duas doses para o ingresso na universidade). Esses resultados são mais relevantes para o controle de surtos, mas eles também podem apoiar alguma consideração quanto a uma terceira dose da vacina tríplice viral para pessoas que adentram um ambiente de alta densidade demográfica e já receberam duas doses muitos anos antes.
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