Referência: J Clin Med Res 2019 Apr;11(4):247
Os diuréticos tiazídicos reduzem os riscos de mortalidade, acidente vascular cerebral e doença cardiovascular entre os pacientes com hipertensão (Cochrane 2018). Dados o perfil razoável de efeitos colaterais e a alta qualidade das evidências de eficácia, os diuréticos tiazídicos são uma das classes de anti-hipertensivos mais prescritos mundialmente. Já se postulou que os diuréticos tiazídicos podem aumentar a fotossensibilidade e o risco de câncer de pele através de uma série de reações químicas complexas que resultam na geração de espécies reativas de oxigênio. Frequentemente os pacientes são os primeiros a trazer os estudos que fazem as notícias circularem à medida que amigos, anúncios e pesquisas na internet podem alertá-los para os riscos potenciais das medicações. Como médicos, faz parte do nosso trabalho analisar de maneira cuidadosa as evidências, ponderando os riscos e benefícios com nossos pacientes no consultório.
Uma recente meta-análise de estudos observacionais publicada no Journal of Clinical Medicine Research examinou a associação entre o uso de diuréticos tiazídicos e o desenvolvimento de câncer de pele. Os autores identificaram 7 estudos de caso-controle e dois estudos de coorte que avaliaram essa associação. Três dos 9 estudos incluíram dados de um único registro dinamarquês; um dos estudos se sobrepôs no tempo em relação aos outros dois. A maioria das amostras incluiu uma alta porcentagem de homens brancos não hispânicos, e somente 3 dos 9 incluíram dados sobre exposição ao sol e queimaduras prévias. O estudo encontrou um risco aumentado de carcinoma espinocelular (CEC) da pele entre os usuários de diuréticos tiazídicos em comparação aos não usuários (odds ratio ajustada [aOR] de 1,86, IC de 95%: 1,23-2,8), um achado que é limitado por uma heterogeneidade significativa entre os estudos. Houve riscos ligeiramente aumentados de carcinoma basocelular (CBC; aOR de 1,19, IC de 95%: 1,02-1,38) e melanoma maligno (MM; aOR 1,14, IC de 95%: 1,01-1,29). Análises de subgrupos que avaliaram a hidroclorotiazida isolada ou em combinação com outras medicações encontraram um risco aumentado de CEC (aOR de 2,04, IC de 95%: 1,79-2,33), mas nenhuma associação com CBC ou MM. O uso de diuréticos tiazídicos por mais de 4,5 anos também pareceu aumentar o risco de CEC, apesar de essa associação também ter sido heterogênea entre os estudos incluídos.
É importante mantermos em mente o benefício sobre a mortalidade demonstrado pelos diuréticos tiazídicos no tratamento hipertensão (razão de riscos de 0,89, IC de 95%: 0,82-0,97, NNT: 51-303, Cochrane 2018) quando avaliamos a possibilidade de que eles também podem aumentar o risco de cânceres de pele não fatais. Apesar de poder parecer fácil para os profissionais dar maior peso aos dados de alta qualidade que sugerem uma melhor sobrevida global em relação aos dados mais fracos de estudos observacionais, tirar o medo que os pacientes têm da palavra “câncer” pode ser difícil. Embora este estudo tenha pouca probabilidade de alterar nossas escolhas de anti-hipertensivos, os médicos podem usar os questionamentos sobre essa associação como uma oportunidade para enfatizar o benefício em longo prazo da terapia com diuréticos tiazídicos, e para encorajar todos os pacientes a se protegerem dos danos solares no verão.
Para mais informações, veja os tópicos Melanoma e Carcinoma espinocelular cutâneo na DynaMed.