MBE em Foco - Volume 5, Issue 9
Referencia: BMJ 2019 Jan 9;364:k4810 ( evidência de nível 2 [médio])
Mais de metade das mulheres que entram na menopausa terão sintomas vasomotores importantes, impactando sua qualidade de vida de maneira significativa. No final dos anos 1990, até uma em cada três mulheres no pós-menopausa recebiam prescrição de terapia de reposição hormonal. À medida em que emergiram dados que demonstraram os danos causados por essa terapia, as taxas de prescrição foram dramaticamente reduzidas. As recomendações atuais sugerem o uso da dose mais baixa possível da terapia de reposição hormonal pelo menor período de tempo possível após a discussão com a paciente sobre os riscos e benefícios. Dados de nível observacional e de metanálises sugerem que a terapia de reposição hormonal transdérmica pode estar associada a um risco mais baixo de tromboembolismo venoso em comparação com as formulações orais. Além disso, a International Menopause Society recomenda a terapia com estrogênio transdérmico como primeira escolha para o tratamento de sintomas da menopausa em mulheres obesas. Apesar de nenhum ensaio randomizado ter comparado diretamente as diferentes formulações de terapia de reposição hormonal, a maior parte das prescrições em países de alta renda ainda é de apresentações orais de maneira isolada. Em parte devido a essa desconexão entre as recomendações e os hábitos de prescrição, pesquisadores do Reino Unido conduziram um grande estudo de caso-controle com o uso de dois conjuntos de dados para avaliar o risco de tromboembolismo venoso com várias apresentações de terapia de reposição hormonal.Dados retrospectivos de 1998 até 2017 coletados no Reino Unido foram usados para identificar mais de 78 mil mulheres com tromboembolismo venoso, capturando pelo menos 15 anos após a alteração geral de prescrição da terapia devido aos danos demonstrados. Os casos foram comparados com até 5 controles por idade e clínica. Mulheres que tinham histórias de prescrição de anticoagulantes e as controles que tinham fatores de risco significativos para tromboembolismo, como câncer ativo ou trombose anterior, foram excluídas. As mulheres para quem havia sido prescrita terapia de reposição nos 90 dias anteriores que tiveram um diagnóstico de TVP foram identificadas através do mesmo conjunto de dados. As mulheres que receberam a terapia tiveram maiores probabilidades de serem jovens (idade 40-49), terem peso corporal normal e menos comorbidades. Após o ajuste para fatores de confusão, foi realizada uma análise de regressão logística e constatou-se que 7,2% dos casos de tromboembolismo haviam sido expostos à terapia de reposição hormonal, em comparação com 5,5% das controles (OR de 1,38 a 1,48). Foi estimado que a terapia de reposição hormonal tenha resultado em 9 casos adicionais de tromboembolismo por 10.000 mulheres-anos. Mais de 85% das prescrições da terapia de reposição hormonal em cada grupo foram de formulações orais, com apenas 14% das prescrições do grupo de casos e 19% das do grupo controle sendo de apresentação transdérmica. Quando comparadas as diferentes apresentações da terapia de reposição hormonal com relação ao risco subsequente de trombose, a terapia transdérmica não foi associada a um risco aumentado de tromboembolismo (OR de 0,87 a 1,01). Ao se examinarem as apresentações específicas da reposição, as que continham estrogênio equino conjugado apresentaram um risco mais alto de tromboembolismo venoso (OR de 1,92 a 2,31), mesmo quando comparadas ao estradiol oral. A análise deste grande conjunto de dados de um único país corrobora ainda mais dados anteriores de nível observacional no sentido de que o uso da terapia de reposição hormonal transdérmica parece oferecer um risco mais baixo de tromboembolismo venoso em comparação com a terapia de reposição hormonal oral, e a terapia transdérmica pode não aumentar o risco de tromboembolismo em absoluto. É importante notar que este estudo não avaliou os benefícios para a saúde, como melhora da qualidade de vida, ou outros riscos tais como o de câncer de cólon ou de eventos cardiovasculares. Apesar de estudos anteriores com resultados similares, um dos achados notáveis deste estudo é a quantidade de mulheres que continuam a receber prescrição de estrogênio oral. Ponto de atenção: ao se considerar a terapia de reposição hormonal para mulheres no pós-menopausa que têm sintomas vasomotores, os dados observacionais continuam a embasar um risco mais baixo de troboembolismo venoso com a terapia transdérmica.
Para mais informações, veja o tópico Terapia de reposição hormonal (TRH) e tromboembolismo venoso na DynaMed.