Referência: EBioMedicine. 2023 Jan;87:104404
Conclusão prática: Considere adotar uma faixa mais estrita do que é o “normal” para o sódio sérico.
Pílula da MBE: Não pule da associação para a causalidade com base apenas em dados observacionais.
Beber mais água foi uma das suas resoluções de Ano Novo? Um estudo recente publicado na eBioMedicine, patrocinada pela Lancet, avaliou a relação do sódio sérico, que é um marcador de hidratação, com o envelhecimento prematuro, doenças crônicas e mortalidade. Dadas as evidências de que a restrição crônica de água em camundongos leva a uma vida útil mais curta, os autores levantaram a hipótese de que a hidratação tem um efeito integral sobre o envelhecimento e que uma hidratação ideal poderia potencialmente retardar o processo.
Os pesquisadores analisaram dados do estudo Atherosclerosis Risk in Communities – uma coorte prospectiva ainda em andamento de mais de 15.000 adultos recrutados de 1985 a 1987 (com idades entre 45 e 66 anos no momento do recrutamento) e acompanhados a cada três anos por até 25 anos. O sódio sérico em jejum médio nas visitas 1 e 2 foi usado como parâmetro para o estado de hidratação nos participantes do estudo. A velocidade do envelhecimento foi avaliada por meio de um cálculo da idade biológica (BA), o desenvolvimento de doenças crônicas e a mortalidade por todas as causas. A BA foi calculada com uma fórmula que integrou 15 parâmetros relacionados à idade para a saúde, tais como: pressão arterial sistólica, volume expiratório forçado e marcadores séricos de metabolismo e inflamação. Foram excluídos da análise os participantes com níveis séricos de sódio fora da faixa de referência (135-146 mmol/l), glicemia >140 mg/dL, IMC >35 kg/m2 e uso de medicamentos redutores da pressão arterial ou do colesterol.
Após as exclusões, foram analisados os dados de 11.255 participantes. Um sódio sérico de 137-142 mmol/l foi associado à menor taxa de mortalidade (26,2%), com aumentos da mortalidade observados em ambos os extremos do espectro normal: 135-136,5 mmol/l (39,3%) e 144,5-146 mmol/l (34,5%). Um sódio sérico >142 mmol também foi associado a um risco aumentado em 39% de uma doença crônica (razão de riscos [HR] = 1,39) e a uma chance 10-15% maior de ser biologicamente mais velho do que a idade cronológica. Ela aumentou para 50% nos participantes com níveis séricos de sódio >144 mmol/L. Notavelmente, uma maior idade biológica foi associada a maiores riscos de doença crônica (HR = 1,70) e mortalidade prematura (HR = 1,59).
Você já está sentindo sede? Bem, embora a evidência apoie haver uma associação entre sódio elevado e envelhecimento acelerado, ela também mostra que um baixo teor de sódio sérico pode ser um problema. Os autores dão um salto muito grande ao assumir que o sódio sérico normal pode ser usado como um parâmetro para o status de hidratação, dado que o status da volemia nem sempre se correlaciona com o sódio sérico. Também não está claro para que lado a associação vai – é o maior ou menor sódio que resulta em doença crônica ou é a doença crônica que leva a alterações no sódio? A exclusão de participantes com níveis anormais de sódio, diabetes, obesidade ou tomar medicação para hipertensão ou hiperlipidemia foi uma tentativa de controlar os fatores de confusão. No entanto, isso limita muito a generalização dos resultados e não exclui outros fatores de confusão que possam explicar o aumento do risco observado com o sódio nas bordas da faixa normal. Este estudo observacional certamente não prova um nexo causal. Talvez os resultados possam facilitar uma discussão sobre as práticas de hidratação com os pacientes mas, afora isso, seu impacto sobre a prática clínica é pequeno. Não estamos dizendo que hidratar não é uma boa ideia – é só que este estudo não é evidência disso! A verdadeira conclusão pode ser que a faixa normal de sódio pode ser ampla demais, embora não esteja claro quais intervenções isso pode sugerir.
Para obter mais informações, consulte o tópico Desidratação e hipovolemia em adultos na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de medicina de família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.