Uma mãozinha na dor ciática: ajuda encaminhar precocemente para fisioterapia?

MBE em foco - Volume 7, Issue 7

Reference: Ann Intern Med. 2020 Out 6

A lombalgia com dor ciática é muito comum, às vezes debilitante, e geralmente desaparece tão misteriosamente quanto aparece. A pesquisa de desfechos muitas vezes se concentra nos relativamente poucos pacientes que não se recuperam rapidamente. As opções de tratamento inicial incluem exercícios, medicamentos e/ou fisioterapia direcionados pelo médico de atenção primária, mas há uma escassez de evidências de alta qualidade com relação ao encaminhamento precoce para fisioterapia. Pesquisadores da Universidade de Utah tiveram como objetivo esclarecer isso com um ensaio randomizado de encaminhamento precoce para fisioterapia em comparação com os cuidados habituais.

Eles recrutaram 220 pacientes com

< 90 dias de lombalgia e sintomas consistentes com compressão de raiz nervosa que se estendiam até abaixo do joelho. Todos foram encaminhados da atenção básica e tiveram um escore de ≥ 20 no Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI), ferramenta de avaliação validada em que as pontuações mais elevadas entre 0 e 100 indicam incapacidade mais grave. Alguns participantes já haviam recebido imagens ou medicamentos no momento do recrutamento. Todos receberam uma cópia do “The Back Book”, de Roland et al., foram aconselhados a lê-lo e a contatarem seus médicos de atenção primária caso precisassem de tratamento adicional. Metade foi randomizada para “cuidados habituais” determinados pelo médico de atenção primária e metade foi agendada para uma consulta com um fisioterapeuta no prazo de três dias. Os dois grupos apresentaram características semelhantes, incluindo suas pontuações basais no ODI. A fisioterapia consistiu em até oito sessões ao longo de quatro semanas e incluiu tratamentos como manipulação com impulsos em alta velocidade, mobilização e tração da coluna vertebral e exercícios. Os pacientes alocados para terapia receberam exercícios a serem realizados nos dias em que não seriam atendidos, mas os tratamentos realizados nas sessões foram individualizados.

À análise, os pacientes do programa da fisioterapia completaram uma média de 5,5 sessões, com poucos efeitos colaterais. O seguimento foi bom, embora um número igualmente alto de participantes em cada grupo (cerca de 42%) teve eventos fora do protocolo, como consultas com outros profissionais, procedimentos e a realização de fisioterapia no grupo dos cuidados habituais ou a não participação de sessões por pacientes do grupo da fisioterapia. Quatro semanas após o programa, os pacientes designados para fisioterapia precoce tiveram maior probabilidade de relatar sucesso que os pacientes que receberam cuidados habituais (risco relativo [RR] de 2,3; IC de 95%: 1,3-4,2), mas essa diferença não foi significativa a seis meses e foi menor após um ano (RR de 1,6; IC de 95%: 1,1-2,4). Uma queda na pontuação do ODI ≥ 7 pontos é considerada “clinicamente significativa” por validação prévia. Os pacientes encaminhados para fisioterapia precoce apresentaram queda de 8,2 (IC de 95%: 4,3-12,1) mais pontos a quatro semanas que o grupo de cuidados habituais, e uma queda adicional foi estatisticamente significante, mas não clinicamente significativa a 6 e a 12 meses. Não houve diferença entre os grupos em relação aos dias de trabalho perdidos.

Este estudo mostra algum benefício em quatro semanas com o encaminhamento precoce para fisioterapia, embora os resultados tenham sido menos impressionantes em momentos posteriores. Infelizmente, a atenção extra dada aos pacientes do grupo da fisioterapia, as heterogeneidades nos tipos e graus das intervenções em ambos os grupos, e os conselhos sobre exercício domiciliar tendo sido dados somente ao grupo da fisioterapia confundem os resultados deste estudo. Dar instruções específicas para fazer alongamentos e exercícios graduados é uma parte rotineira do cuidado ciático para a maioria dos médicos de atenção primária. No mínimo, instruções para a realização de exercícios em casa teriam sido uma intervenção mais realista para ambos os grupos. Outra limitação metodológica é a de que 42% dos pacientes de ambos os grupos tiveram vários eventos fora do protocolo. Este estudo imita a vida real, mas a presença de tantos fatores de confusão impede conclusões firmes. Esses dados indicam que o encaminhamento precoce para fisioterapia pode oferecer a alguns pacientes uma melhora mais rápida que os cuidados habituais.

Para mais informações, consulte o tópico

Dor ciática na DynaMed.

Equipe Editorial do MBE em Foco da Dynamed

Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, editor adjunto para Medicina Interna da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts, e Katharine DeGeorge, MD, MS, professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia e editora clínica da DynaMed.