Referência: JAMA Intern Med 2015 Feb 9 early online (evidência de nível 2 [médio])
A vacinação rotineira contra o papilomavírus humano (HPV) é recomendada para todas as crianças de 11-12 anos de idade e é aprovada em adolescentes e adultas jovens até 26 anos de idade com o objetivo principal de prevenir cânceres associados ao HPV, particularmente o câncer de colo uterino (MMWR Recomm Rep 2014 Aug 29;63(RR-05):1, CA Cancer J Clin 2007 Jan-Feb;57(1):7, Obstet Gynecol 2014 Mar;123(3):712, Pediatrics 2012 Mar;129(3):602). Embora as taxas de vacinação venham aumentando constantemente desde que a vacina quadrivalente contra o HPV recebeu a primeira aprovação da FDA para meninas e mulheres em 2006, é comum perderem-se oportunidades de vacinação. Em 2013, a cobertura vacinal para meninas com idades entre 13 e 17 anos foi de 57,3% para ≥ 1 dose e apenas 37,6% receberam todas as três doses recomendadas (MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2014 Jul 25;63(29):620). Várias barreiras à vacinação já foram descritas (Prev Med 2014 Jan;58:22), mas a maior atenção tem sido dada aos efeitos da vacinação sobre a sexualidade adolescente. Especificamente, tem-se argumentado que a vacinação contra o HPV leva à atividade sexual mais precoce e aumenta os comportamentos sexuais de risco (J Health Commun 2010 Mar;15(2):205, BMC Public Health 2014 Jul 9;14:700). Um estudo recente comparou as incidências de infecções sexualmente transmissíveis entre 21.610 adolescentes do sexo feminino com idades entre 12 e 18 anos que receberam pelo menos uma dose da vacina contra o HPV nos Estados Unidos contra 186.501 adolescentes com características semelhantes, mas não vacinadas, utilizando dados longitudinais de seguradoras.
As adolescentes vacinadas e não vacinadas foram pareadas por idade, residência e plano de saúde, mas foram permitidos vários controles não vacinados para cada adolescente vacinada. As taxas de vacinação variaram de maneira significativa por região geográfica dos EUA e as taxas mais baixas foram encontradas no Sul. As taxas de infecções sexualmente transmissíveis das adolescentes vacinadas e não vacinadas foram determinadas para o período de tempo que incluiu um ano antes e um ano após a vacinação. No ano anterior à vacinação, as adolescentes que receberam a vacina contra HPV tiveram uma incidência significativamente maior de qualquer doença sexualmente transmissível e um maior percentual de uso de contraceptivos orais. Para controlar estas diferenças iniciais, foi realizada uma análise do tipo “diferenças-em-diferenças” comparando as mudanças nas incidências das infecções sexualmente transmissíveis do ano anterior à vacinação até 1 ano após a vacinação nos grupos vacinado e não vacinado. As taxas de doenças sexualmente transmissíveis aumentaram em ambas as populações no ano posterior à vacinação. A análise “diferenças-em-diferenças”, no entanto, não apresentou diferença significativa nas infecções sexualmente transmissíveis entre as adolescentes vacinadas e não vacinadas (odds ratio 1,05, IC de 95% 0,8-1,38). Resultados semelhantes foram encontrados nas análises de subgrupos de adolescentes com idades entre 12 e 14 anos e 15 e 18 anos e de adolescentes que usavam medicamentos anticoncepcionais.
Os resultados deste estudo sugerem que a vacinação contra o HPV não está associada a aumentos nas infecções sexualmente transmissíveis. Embora as adolescentes que receberam a vacina contra o HPV tenham tido uma maior taxa de infecções sexualmente transmissíveis, essa diferença foi estabelecida antes da vacinação ocorrer e não foi resultado dela. Por outro lado, este resultado sugere que as adolescentes sob risco aumentado de doença sexualmente transmissível podem ter tido uma taxa mais alta de vacinação contra o HPV, possivelmente devido a um diagnóstico de doença sexualmente transmissível. Os aumentos de incidência das infecções sexualmente transmissíveis observados em ambos os grupos ao longo do tempo destacam a importância da vacinação precoce contra o HPV, antes da potencial exposição a esse vírus.
Para mais informações, veja o tópico Vacina contra o papilomavírus humano na DynaMed.