Referência: JAMA Psychiatry. 2022 Ago 24 early online
Conclusão clínica para levar para casa: Não comece a recomendar cogumelos mágicos para tratar a dependência do álcool ainda. Considere tentar a psicoterapia, que já demonstrou que funciona.
Pílula da MBE: Tanto o viés de auto-seleção quanto o viés de recordação e uma intervenção de controle inadequada, que leva a um cegamento inadequado, podem resultar em superestimação do benefício em favor da intervenção.
Um ensaio recente publicado na JAMA Psychiatry recebeu muita atenção pelo que parecem ser efeitos impressionantes da psilocibina, o ingrediente psicoativo em certos cogumelos “mágicos”, para diminuir o uso do álcool em adultos com dependência alcoólica. Mas esse psicodélico é realmente o antídoto mágico para o alcoolismo pelo qual esperávamos?
O recrutamento para o estudo começou com anúncios na mídia local oferecendo 12 semanas de TCC e entrevistas motivacionais para a dependência de álcool e a chance de receber psilocibina para tratamento médico. Como bônus, todos receberam psilocibina gratuitamente ao final do ensaio, independentemente do grupo de atribuição. Noventa e cinco adultos com dependência alcoólica foram randomizados para receberem uma única dose de psilocibina ou difenidramina na semana 4 e novamente na semana 8 durante cada uma de duas sessões de orientação motivacional estendidas para durarem o dia inteiro. E foi isso - duas doses.
A coleta de dados se estendeu por 32 semanas após a primeira dose de medicação e mostrou que o percentual autorrelatado de dias de consumo pesado foi menor no grupo da psilocibina (9,7% vs. 23,6%). O consumo diário de álcool também foi menor no grupo da psilocibina. Curiosamente, não houve eventos adversos relacionados à psilocibina, mas alguns pacientes do grupo da difenidramina tiveram internações psiquiátricas e um teve uma laceração de Mallory Weiss.
Cogumelos mágicos: não há nada que eles não possam fazer, certo? Bem, os métodos escolhidos para este ensaio podem ter feito os cogumelos parecerem mais mágicos por várias razões. Primeiro, temos o viés de auto-seleção. Algo é inerentemente diferente em uma população que responde a um anúncio em comparação com aqueles que não o fizerem. Os participantes deste ensaio provavelmente pensaram que a intervenção funcionaria, o que nos leva ao segundo problema: cegamento inadequado. Mais de 90% dos participantes e dos terapeutas do estudo adivinharam corretamente a atribuição do tratamento durante as sessões de medicação. Então, isso em associação com o viés de auto-seleção significa que as pessoas do grupo de controle descobriram que não tinham recebido a psilocibina e foram mais propensas a pensarem que sua intervenção não funcionaria. Em terceiro lugar, os pesquisadores perguntaram sobre beber a cada 4 semanas; tentar lembrar o quanto você bebeu um mês atrás pode ser um pouco difícil, e isso pode resultar em viés de recordação. Há certamente razões para se esperar que a psilocibina seja uma opção terapêutica potencial para a dependência do álcool. Mas, em última análise, isso exigirá um estudo mais rigoroso.
Para mais informações veja o tópico Transtorno por Uso de Álcool na DynaMed.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Nicole Jensen, MD, médica de família da WholeHealth Medical. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed.